O Estado de S. Paulo
Em assembleia na fábrica de São Bernardo, trabalhadores da Volkswagen aprovam programa de demissão voluntária para reduzir em cerca de 35% o quadro de funcionários. Para os que permanecerem na montadora, haverá garantia de emprego até 2025. A unidade do ABC emprega 8,6 mil pessoas.
Em assembleia realizada ontem, a maioria dos trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, aprovou proposta de abertura de um Programa de Demissão Voluntária (PDV) para reduzir em cerca de 35% o número de funcionários da fábrica, que emprega atualmente 8,6 mil pessoas. Para os que permanecerem na empresa, haverá garantia de emprego até 2025.
Diante de um cenário sem perspectivas de retomada substancial da produção de veículos e do desemprego em alta, eles também aceitaram a adoção de suspensão de contratos de trabalho (lay-off) por até dez meses com salários inferiores aos pagos até agora, congelamento de reajuste salarial neste ano e volta gradativa de reposição da inflação, além de mudanças em benefícios como plano médico e participação nos lucros.
Assembleias nas fábricas de automóveis em Taubaté (SP) e em São José dos Pinhais (PR) serão realizadas hoje. Na unidade de motores em São Carlos (SP), a votação será feita apenas na segunda-feira. Juntas, as quatro plantas têm hoje cerca de 15 mil trabalhadores. A proposta é a mesma, com algumas especificidades. As negociações entre sindicatos e empresa para chegar a um entendimento duraram mais de três semanas.
A Volkswagen não quis comentar o tema ontem, pois aguarda as decisões das outras fábricas. O presidente da companhia, Pablo Di Si, afirmou recentemente que a empresa opera com elevada ociosidade, assim como todo o setor automotivo, e precisa cortar custos para garantir a viabilidade dos negócios no País.
Segundo o executivo, o grupo deixou de produzir neste ano 146 mil veículos em relação ao mesmo período de 2019. “É um número que equivale a uma fábrica inteira”, disse. De acordo com empresa, a ociosidade nas linhas de produção representa os empregos de um turno de trabalho em cada fábrica.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, afirmou que a aprovação do acordo foi a melhor alternativa aos trabalhadores diante de um cenário econômico instável, sem políticas governamentais que estimulem a retomada da produção.
“Vivemos um momento de incerteza em relação ao futuro econômico do País. Nesse cenário, um acordo que garante estabilidade por cinco anos é muito positivo, inclusive tornando-se referência para o movimento sindical em relação às possibilidades de conquista da classe trabalhadora”, afirmou Santana.
Para o sindicalista, além de trazer tranquilidade aos trabalhadores que vão permanecer na fábrica, o acordo tem efeitos positivos na cadeia automotiva ao garantir a manutenção do nível de produção e até apontar para a possibilidade de crescimento.
Salários extras
Pelo programa aprovado no ABC, quem tem até dez anos de trabalho e aderir ao PDV terá direito a 25 salários extras, além do previsto na rescisão. O benefício aumenta de acordo com o tempo de serviço e chega a 35 salários para quem é funcionário do grupo há 30 anos ou mais. Essa proposta terá um prazo limitado para adesões. Para quem se inscrever depois, o benefício será reduzido em 10 salários.
No caso da fábrica de Taubaté, o sindicato dos metalúrgicos local informa que a empresa também se compromete em descongelar um programa de investimentos que estava previsto para o primeiro trimestre, mas foi suspenso em razão da pandemia do coronavírus. A fábrica deverá compartilhar a produção do Polo com a unidade do ABC e receber a linha de produção de uma nova versão do modelo. Para a unidade do ABC, foi prometida a sucessora da picape Saveiro. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)