País já tem projetos de compensação de emissão de carbono

O Estado de S. Paulo

 

Antes mesmo de o governo instituir um mercado obrigatório de direitos de emissões de gases do efeito estufa, empresas se mobilizam em plataformas voluntárias de negociação. É o caso do programa “Compromisso com o Clima”, lançado em 2017, com apoio da Natura e do Itaú Unibanco, em parceria com o Instituto Ekos Brasil. Ele une, na Plataforma Ekos Social, de um lado, empresas interessadas em comprar créditos de carbono para neutralizar suas emissões, e, de outro, projetos socioambientais que geram esses créditos de forma certificada, pela redução da poluição ou pela captura de gases, como ocorre com o plantio de árvores.

 

Desde 2017, o programa credenciou 11 projetos de geração de créditos de carbono, selecionados em editais de 2017 a 2019, de oito organizações, entre empresas e entidades sem fins lucrativos, informou Thiago Othero, coordenador técnico da Plataforma Ekos Social. O edital de 2020 acrescentará de cinco a oito projetos à plataforma de negociação.

 

A Irani Papel & Embalagem aderiu à plataforma no ano passado. Segundo Leandro Farina, gerente de Sustentabilidade da empresa, a Irani vendeu crédito de carbono por anos, levantando R$ 16 milhões até 2018, mas viu a demanda internacional cair recentemente. A fabricante de embalagens de papel já negociou com o Itaú Unibanco e agora conversa com a Natura.

 

O Itaú relatou que vem aumentando suas compensações. Em 2017, compensou 47,3 mil toneladas de gases emitidos de 2012 a 2015. Em 2018, compensou 98 mil toneladas referentes a emissões de 2016 e 2017. Em 2019, quando a Irani vendeu créditos, o Itaú Unibanco comprou 60,3 mil toneladas para compensar a poluição de 2018.

 

A construtora imobiliária MRV aderiu à plataforma este ano, para comprar créditos e compensar as emissões associadas às suas obras. A empresa, que neutraliza todas suas emissões desde 2015, investindo R$ 150 mil ao ano, em média, quer fechar a primeira negociação este ano, disse Raphael Lafetá, diretor de relações institucionais e sustentabilidade.

 

Para a diretora global de sustentabilidade da Natura & Co., Denise Hills, a plataforma facilita as transações, incentivando mais empresas a compensarem suas emissões, num “processo que já está posto”, baseado na experiência da Natura, do Itaú e outras empresas. “Quanto mais empresas entram, maior a compensação (de emissões), menor o custo de operação – ou seja, a burocracia do processo – e maior a possibilidade de incentivarmos projetos de compensação de carbono”, afirmou.

 

Volume

 

Do lado dos compradores, são 18 organizações, incluindo as empresas apoiadoras – além de Natura, Itaú e MRV, apoiam o programa a B3, dona da Bolsa, as Lojas Renner, a Raia Drogasil e o escritório de advocacia Mattos Filho. O Instituto Ekos Brasil não revela valores, pois as transações são fechadas entre compradores e vendedores. Segundo Othero, os projetos apoiados neutralizaram a emissão de 1,274 milhão de toneladas de gases. (Vinicius Nerder)