Recuperação do setor automotivo pós-pandemia será lenta, diz Anfavea

O Globo

 

A recuperação do setor automotivo no Brasil após a pandemia do novo coronavírus será lenta, avalia a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, com a expectativa de queda de 40% na venda de veículos este ano, não poderia ser diferente.

 

“O Brasil vai sair mais pobre dessa crise, e, claro, isso tem impacto no setor automotivo. É um setor onde há muita paixão, muita gente gosta de carro, mas com o desemprego e a queda no consumo a recuperação fica difícil” diz Moraes. “Não vemos nenhum motivo para aventar a hipótese de uma recuperação mais rápida”.

 

Ele prevê “um número muito ruim” no fechamento do segundo trimestre. Só no Estado do Rio, o licenciamento de novos veículos até agora no ano despencou 51,5% (dados de janeiro até 22 de junho), para 33,9 mil. Com a queda projetada de 40% nas vendas até o final do ano no país, seriam licenciados apenas 1,675 milhão de automóveis.

 

Pesa na previsão sombria o que a entidade avalia como a limitação na capacidade do governo de estimular a economia. De acordo com Moraes, o setor buscou a princípio se concentrar na aprovação da Medida Provisória (MP) 936, de redução de trabalho e jornada. Depois, procurou caminhos para reforçar a liquidez, o capital de giro, diante de quedas de receita de até 90% em abril e maio e do aumento dos estoques, com consequente queima de caixa.

 

“Brigamos muito pela liquidez, e dialogamos com o ministro da Economia, Paulo Guedes, com o secretário Especial de Produtividade Carlos da Costa, com o BNDES, os bancos” diz Moraes. – No entanto, a estratégia do governo foi priorizar as microempresas, e depois de muitas idas e vindas criaram o Pronampe, voltado a companhias com faturamento até R$ 4,8 milhões por ano, e agora criaram essa linha FGI de crédito, que dá aos bancos garantia de até 80% do governo em caso de calote. Mas essa linha ainda não chegou até a ponta final.

 

Manicômio tributário

 

Para a entidade, isso tudo é muito lento, pois não só as montadoras como também fornecedores e concessionárias estão sofrendo bastante com a crise do coronavírus.

 

“Os bancos aumentam os spreads (diferença entre a captação do crédito e seu custo final para o tomador), não dão linhas de financiamento, ou dão, mas com exigência de garantias maiores… ” enumera Moraes.

 

O setor tem ao menos R$ 25 bilhões em créditos tributários e acredita ser válida a discussão para monetizá-los.

 

“O Brasil tem um manicômio tributário, com medidas que dificultam essa monetização, mas estamos em discussões sobre o assunto com o Ministério da Economia” diz o presidente da Anfavea. (O Globo/André Machado)