O Estado de S. Paulo
Com a queda nas vendas, montadora japonesa demitiu 16% dos 2,5 mil empregados em Resende, no Vale do Paraíba.
Às vésperas de retomar a produção nesta quarta-feira, após quase três meses de paralisação, a Nissan anunciou ontem 398 demissões na fábrica de Resende (RJ), em meio à crise provocada pela pandemia de covid-19. O número equivale a 16% da mão de obra da empresa na unidade, onde são feitos os modelos March, Versa e Kicks.
A Nissan é a primeira montadora a anunciar demissões no período da pandemia. O setor, contudo, pode ter novos cortes ao longo dos próximos meses diante da previsão de queda de 40% nas vendas em relação ao ano passado.
A montadora informou que vai voltar às operações com apenas um turno de trabalho. Antes da parada operava em dois turnos, com um total de 2,5 mil funcionários. A empresa alega que está adequando suas operações à nova situação do mercado automotivo em decorrência da crise atual e precisou adotar a medida “para garantir a sustentabilidade do seu negócio no País e a travessia deste momento de adversidade”.
Segundo a Nissan, os cortes levam em conta as projeções de queda do mercado automotivo para este ano. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) projetava em janeiro vendas de 3 milhões de veículos no País, previsão revista no início deste mês para 1,67 milhão de unidades.
O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, Renato Soares, disse que não houve negociação com a entidade e afirmou temer novos cortes. A Nissan negou novas demissões no momento.
Medidas emergenciais
Desde março, 63 fábricas de veículos tiveram as atividades suspensas e recorreram a medidas emergenciais criadas pelo governo federal por meio da MP 936, como suspensão dos contratos de trabalho e redução de jornada e salários. A MP vence no fim do mês, mas o governo avalia prorrogar até o fim do ano.
Como a suspensão dos contratos tinha validade por dois meses e prevê mais dois meses de estabilidade aos trabalhadores, a Nissan vai pagar aos demitidos os salários equivalentes a esse período. Além dos valores da rescisão, informou que vai manter o plano de saúde por três meses e o vale alimentação por seis meses.
Soares informou ainda que ontem mesmo dirigentes do sindicato teriam uma reunião com a direção da Nissan. “O objetivo é reverter as demissões”, que foram comunicadas aos trabalhadores em suas casas.
Todo o setor vem retomando a produção gradualmente com níveis de atividade bem abaixo do que tinha antes da pandemia.
A GM, por exemplo, concluiu a retomadas das atividades em suas cinco fábricas no País na semana passada com apenas 50% dos cerca de 15 mil funcionários e avalia o que fazer nos próximos meses com a alta ociosidade das fábricas. As montadoras empregam atualmente 125,1 mil trabalhadores, quase 5 mil a menos do que há um ano.
Ontem foram retomadas atividades na Ford em Camaçari (BA) e nas unidades da Toyota em Indaiatuba, Porto Feliz e São Bernardo do Campo (SP). A fábrica de Sorocaba volta a operar no dia 26, assim como parte da planta da Hyundai em Piracicaba. A PSA, em Porto Real (RJ), e a unidade da Ford que produz motores em Taubaté religam as máquinas hoje, enquanto a Honda terá o retorno das plantas de Sumaré e Itirapina no dia 13 de julho – todas elas no Estado de São Paulo. (O Estado de S. Paulo/Vinicius Neder e Cleide Silva)