Com dólar alto, GM tira modelos da produção

O Estado de S. Paulo

 

Mesmo com a pandemia do coronavírus, que resultou em queda de quase 40% nas vendas até maio em relação ao mesmo período de 2019, os preços dos carros novos em geral subiram, até agora, 6% a 7%, em média. Os reajustes são decorrentes da desvalorização do real e levou a General Motors a suspender a produção de algumas versões de modelos para os quais não consegue repassar custos, em especial os mais baratos.

 

“Estou no Brasil há sete, oito anos e nunca tinha visto aumentos como estes num período de seis meses”, afirma o presidente da General Motors na América do Sul, Carlos Zarlenga. Só neste ano, a moeda americana teve valorização de 32,5%. Já no período de 12 meses, a cotação passou de R$ 3,70 em julho de 2019 para R$ 5,31 na sexta-feira. “Isso significa um impacto violento e tem atrapalhado os negócios quase tanto quanto a queda de volume de vendas”.

 

O executivo informa que a GM, assim como outras fabricantes, tem repassado parte dessa alta aos preços. Os veículos têm vários componentes importados, principalmente os eletrônicos e sistemas de elevada tecnologia. “Mas há muitos produtos que não são rentáveis, mesmo com reajuste, e é melhor não produzir e não vender pois, quanto mais se produz e vende, mais dinheiro se perde.”

 

Zarlenga não quis revelar quais produtos a GM deixou de produzir neste momento, mas afirma que as versões de entrada (as mais baratas de cada modelo) são as que têm mais problemas de repasse de custos.

 

Desde a semana passada, as cinco fábricas da GM no Brasil voltaram a operar, mas com metade do pessoal e produção adequada à previsão de demanda para este ano que, na opinião de Zarlenga, deve ficar em 1,9 milhão de veículos. No início do ano a previsão do setor era de vendas de 3 milhões de veículos, 9% a mais que em 2019.

 

Todas as fábricas voltaram a operar com apenas um turno. Dos cerca de 15 mil funcionários, metade está em casa, com contratos suspensos (lay-off). O governo deve prorrogar a MP 936, que trata do lay-off e da redução de jornada de trabalho, mas Zarlenga vai avaliar se o grupo vai renovar sua adesão.

 

“Tudo vai depender de como será a retomada do mercado. Com os níveis de volume previstos, em algum momento vamos ter de decidir se vamos estender o lay-off ou se haverá redução do emprego, que é uma opção para nós e toda a indústria”, diz o executivo. “Evidentemente, o impacto da demanda vai se refletir no emprego na indústria, mas quanto e em que momento veremos mais para a frente. Até agora, estamos tentando segurar os empregos o máximo possível.”

 

Investimentos

 

O executivo afirma que o setor como um todo duplicou o patamar de dívidas para cobrir a queda no fluxo de caixa, e algumas empresas de autopeças que não conseguiram empréstimos “não vão conseguir sair da crise”.

 

Os investimentos planejados para os próximos anos vão ser bem menores pois, segundo ele, o impacto da covid-19 não será só de curto prazo, mas de médio e longo prazos. O plano da GM de aplicar R$ 10 bilhões até 2014 continua congelado, “e agora vamos avaliar quais projetos vamos retornar”, diz Zarlenga. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)