The Capital Advisor
O estudo anual do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) serve de subsídio para as empresas do setor programarem a produção de peças para o mercado de reposição em paralelo à produção para as montadoras.
Parte dele, que é divulgada apenas aos associados do Sindipeças, inclui o número de veículos por modelo e até por cores, tendo como base o Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam).
A entidade gostaria que, ao mostrar a grande quantidade de veículos velhos em circulação no País, o relatório também servisse para alertar as autoridades da necessidade de um programa de renovação de frota, tema que o setor automotivo tenta colocar na pauta governamental há muitos anos, principalmente para o segmento de caminhões.
As discussões não vão adiante porque exigiria adotar subsídios, como juros bem mais em conta para os proprietários promoverem a renovação.
O assunto estava voltando às discussões das empresas com o novo governo federal, e estava agora sendo tratado como um programa de reciclagem nacional.
Com a crise econômica provocada pelo novo coronavírus, porém, Elias Mufarej, diretor do Sindipeças e responsável pela pesquisa, acredita que não haverá esforços governamentais para levá-lo adiante nesse momento.
Frota de veículos envelhece há seis anos consecutivos
A frota brasileira de veículos vem ficando mais velha há seis anos consecutivos. Com o tombo das vendas de modelos novos previsto para este ano – de cerca de 40%, segundo previsão dos fabricantes -, a idade média dos automóveis em circulação no País deve superar dez anos.
Hoje essa média é de 9 anos e 10 meses, um ano e 4 meses a mais do que em 2012, quando o mercado registrou venda recorde de 3,8 milhões de veículos novos.
A idade média dos caminhões é ainda maior, de 11 anos e 7 meses, segundo o mais recente estudo do Sindipeças com base em dados de 2019.
Atualizado anualmente desde a década de 60, o relatório mostra que, entre os pouco mais de 2 milhões de caminhões em atividade, 45% têm entre 11 e 20 anos e 13% têm mais de duas décadas.
Entre os 37,9 milhões de automóveis, 18% têm até três anos (considerados seminovos), taxa que era de 25% em 2014.
“A renovação da frota está ligada à proporção de veículos novos que entram no mercado”, diz Elias Mufarej. Se a venda de zero quilômetro cai, a idade média aumenta.
O setor ainda não conseguiu repor a queda de vendas de carros novos registrada de 2013 a 2016, de quase 50%, mesmo com a melhora apresentada nos últimos três anos.
Com a retração de 40% esperada para este ano, a idade média dos automóveis vai passar de uma década, “o que é muito ruim pois quanto mais velhos, mais poluentes e mais perigosos os veículos se tornam”, diz Mufarej.
Ele pondera, contudo, que os automóveis atuais têm mais qualidade, tecnologia e segurança e podem durar mais – o que significa que o consumidor também pode demorar mais a fazer a troca por outro mais novo, colaborando assim com o aumento da idade média.
O presidente da Bright Consulting, Paulo Cardamone, reforça que veículos mais antigos aumentam o número de acidentes e de mortes, assim como o de congestionamentos por quebra nas ruas e estradas.
Consequentemente, os gastos do governo nas áreas de saúde e infraestrutura são maiores. Ele cita também que a permanência de uma frota mais antiga retarda a evolução tecnológica dos veículos.
Outro dado, ressalta Cardamone, é a maior emissão de poluentes nocivos à saúde como NOX e particulados. (The Capital Advisor/Marcelo Heimerdinger)