O Estado de S. Paulo
Em meio à pandemia do novo coronavírus, o País registrou em maio a maior deflação desde a implantação do Plano Real, em 1994, segundo mostra o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial. Os preços da economia recuaram 0,59% neste mês, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma deflação mediana de 0,47% em maio.
“Nos próximos meses, os efeitos da retração econômica e da desaceleração dos preços de commodities devem continuar a se sobrepor sobre o impacto do câmbio e do choque de oferta na inflação”, opinou a economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos.
Lisandra espera que o IPCA acumule alta de apenas 0,70% em 2020, o que configuraria uma nova mínima história desde o Plano Real, lançado em 1994. A menor taxa de inflação anual até hoje foi a de 1998, de 1,65%. “É consequência de uma retração econômica sem precedentes”, justificou a economista da XP. Ela estima uma queda de 6,0% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano.
A taxa de inflação acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses foi de 1,96% em maio, a mais baixa em mais de 20 anos. Os combustíveis e as passagens aéreas foram os principais responsáveis pela deflação deste mês.
O gasto das famílias com Transportes recuou 3,15% em maio, após uma queda de 1,47% em abril. O grupo deu a maior contribuição negativa para a taxa de -0,59% do IPCA15, o equivalente a -0,63 ponto porcentual.
A gasolina ficou 8,51% mais barata, enquanto as tarifas aéreas caíram 27,08%. As famílias gastaram menos com transportes, habitação, vestuário, saúde e despesas pessoais.
Os alimentos voltaram a ficar mais caros, mas subiram menos. Os consumidores pagaram mais pela cebola, batata inglesa, feijão carioca, alho e arroz. Por outro lado, caíram os preços da cenoura e das carnes.
O economista-chefe da gestora de recursos Ativa Investimentos, Étore Sanchez, prevê uma deflação entre 0,50% e 0,55% no IPCA fechado do mês de maio. Segundo ele, o resultado do IPCA-15 reforça a necessidade de um novo corte na taxa básica de juros, a Selic.
Inflação volta em junho
A tendência é que os índices de preços voltem a ter variações positivas a partir de junho, previu a economista Julia Passabom, do Itaú Unibanco. Ainda assim, os preços dos serviços não vão subir, contendo qualquer pressão inflacionária, tanto pela redução da demanda em meio à pandemia do coronavírus, quanto pela deterioração da atividade.
“Enquanto temos esses estabelecimentos fechados, os fundamentos por trás desse segmento também vão piorando”, disse Julia. A economista espera uma inflação de 2,0% para o fim deste ano.
O Itaú Unibanco estima que o Banco Central (BC) reduza a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em junho, chegando ao fim do ano em 2,25% ao ano.
Para o economista-chefe da gestora Garde Asset, Daniel Weeks, a deflação do IPCA-15 de maio reforça a avaliação de que a dinâmica da crise causada pela pandemia do coronavírus é desinflacionaria e aumenta a expectativa de que o Copom retire 0,75 ponto porcentual da taxa Selic em junho. “Se o Banco Central está comprometido em trazer a inflação para a meta em 2021, teria de cortar além desses 0,75 pontos porcentuais”, disse Weeks. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Cícero Cotrim e Thaís Barcellos)