Com o pior resultado desde 1957, Anfavea critica condução da crise

AutoIndústria

 

Com apenas 1.847 veículos produzidos em abril, a indústria automotiva brasileira registrou o pior resultado de sua série histórica, iniciada em 1957. Com relação ao mesmo mês de 2019, quando foram fabricadas 267,6 mil unidades, a queda é de 99,4%. Praticamente todas as fábricas suspenderam atividades no mês passado, quando também despencaram vendas internas e exportações.

 

Ao revelar o balanço do setor nesta sexta-feira, 8, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moares, não poupou críticas à condução da crise no País, afirmando que “o Brasil precisa ter uma coordenação melhor para conseguirmos o achatamento da curva da saúde e uma melhor preparação para a retomada econômica”.

 

O executivo reiterou várias vezes que o setor defende as medidas públicas de isolamento, destacando que todas as montadoras as estão praticando, mas disse ser necessário um trabalho conjunto das iniciativas pública e privada para evitar uma crise econômica mais aguda do que a decorrente da crise na área da saúde.

 

“Estamos vivendo uma crise institucional. O Brasil poderia ter uma coordenação melhor”, afirmou Moares, ao comentar que a falta de uma coordenação conjunta está prejudicando a economia mais do que o necessário. “Não tenho dúvidas que vamos ter recessão, mas o tamanho dela vai depender de nossa habilidade em gerir e coordenar as medidas.”

 

Na sua avaliação, a crise econômica poderia ser menos grave se houvesse responsabilidade e coerência dos políticos na coordenação das ações referentes à pandemia e à economia: “Infelizmente, temos políticos discutindo aumento nos salários dos servidores públicos. Não consigo entender como tem gente que consegue colocar esse assunto em pauta”.

 

Questionado sobre a decisão do presidente Jair Bolsonaro de aproveitar uma reunião com empresários na quinta-feira, 7, em Brasília para dirigir-se, a pé, até o STF, Supremo Tribunal Federal, o presidente da Anfavea disse que não iria entrar nesta discussão política. “Não é a nossa praia, não queremos discutir.”

 

Mas na sequência deixou claro que está difícil conviver com a crise política em pleno período de agravamento da pandemia. “Cada dia tem uma crise. De manhã, no meio da tarde e à noite”. Na sua avaliação, “não é hora de ruídos políticos que só desviam as atenções do que realmente interessa à população brasileira no momento de uma crise

sem precedentes”.

 

O executivo elogiou a medida provisória 936, que envolve medidas de flexibilização no trabalho e vem sendo amplamente utilizada no setor, aventando inclusive a possível necessidade dela ser prolongada. Sobre demissões futuras, afirmou que tudo dependerá muito da gestão da crise. “Quanto mais coordenada a gestão da crise da saúde e a da economia, melhor serão as coisas.”

 

Tudo em queda

 

O pior nível de produção desde que o setor se instalou no Brasil em 1956 – quando havia apenas seis montadoras em operação no País (Ford, GM, Volkswagen, DKV-Wemag, Mercedes-Benz e Scania) – foi acompanhado de números decepcionantes em todas as áreas de atuação da indústria.

 

Foram emplacados 55,7 mil automóveis em abril, o que representou queda de 76% em relação a abril de 2019, pior resultado em 20 anos. O segmento de caminhões recuou 53,5% no mesmo período e o de máquinas agrícolas e rodoviárias caiu 23,9%. As exportações de veículos despencaram 79,3%, com apenas 7,2 mil embarques, o pior desempenho desde janeiro de 1997. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)