GM em Gravataí produz quatro milhões de carros

Jornal do Comércio-RS

 

Depois do susto de um carro que incendiou e um recall na largada da comercialização do novo Onix, a General Motors considera os episódios como superados e foca a escalada da produção da nova plataforma de veículos na fábrica em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). O segundo modelo da família, o hatch, foi lançado nesta quarta-feira (27). Um ato simbólico marcou a inauguração da plataforma global, que teve investimento de R$ 1,4 bilhão desde 2017.

 

Pelo ritmo da produção, que chegou a 3,991 milhões de unidades em 19 anos de operação até a manhã dessa quarta-feira, a fábrica deve atingir a marca de 4 milhões de carros produzidos na planta gaúcha na próxima semana. Os 9 mil veículos que faltam devem ser rapidamente alcançados: a fábrica monta 65 carros por hora, em três turnos de trabalho. São quase 1,4 mil unidades ao dia. No ano, a capacidade é de 350 mil veículos, acima das 330 mil do complexo antes do novo investimento, que marcou a terceira ampliação.

 

O diretor-geral da fábrica, Luis Mesa, afirma que a unidade tem a maior produtividade de uma planta da GM no mundo. “Considerando apenas uma linha de produção, é a maior produtividade do mundo”, informou Mesa, que acompanhou a implantação e o desenvolvimento da nova plataforma, que serve de exportação para a América do Sul e deve enviar unidades a mercados em outros continentes. Na América do Sul, é a maior em produção. A unidade também ganhou índice muito maior de digitalização e operação de robôs.

 

Mesa não quis dizer o dia que a montadora vai bater os 4 milhões, fazendo suspense. “É surpresa”, despistou o engenheiro colombiano. A marca estreou a produção gaúcha para o mercado em julho de 2000. A primeira expansão foi anunciada em 2004 e a segunda, em 2010. A atual plataforma marcou o encerramento da fabricação do antigo Onix e do Prisma em Gravataí, que passaram para a planta em São Caetano do Sul (SP). São pouco mais de 19 anos de produção no Centro Industrial Automotivo de Gravataí (Ciag), que, em 2020, completa duas décadas.

 

A GM comemora que a versão sedã lidera as vendas, com 7 mil unidades em outubro, na categoria. “O Onix está há 52 meses consecutivos como o mais vendido do País”, disse o vice-presidente da montadora na América do Sul, Marcos Munhoz, citando que os modelos estão maiores – mesmo o hatch, e com tecnologia de “carros de segmentos superiores que poucos têm”. Sobre o recall, Munhoz considera “que é página virada”. “A lição que fica é a atitude. Tomamos uma atitude rápida”, afirmou o vice-presidente.

 

A falha ocorreu no software que gerencia o aquecimento do motor. Houve um caso de um veículo que incendiou. O recall foi anunciado no começo deste mês. O Jornal do Comércio apurou que o carro pegou fogo porque o motorista não teria parado quando o alerta de aquecimento surgiu no painel. Para prevenir futuros problemas, a montadora programou para o veículo parar quando há elevação da temperatura.

 

A chegada da nova versão deve impulsionar mais as vendas. Munhoz cita que sete de cada 10 unidades comercializadas são do hatch. O preço é mais em conta, e o perfil de uso muda. O executivo voltou a descartar que a marca possa voltar ao segmento de entrada, de carro popular, como ocorreu com o Celta, primeiro carro fabricado em Gravataí. “Não volta. A experiências não foram boas, e o perfil de uso de carro no Brasil exige mais espaço”, justificou. A GM também estreia a venda do carro elétrico, o Bolt, que teve todo o primeiro lote, de 75 unidades, vendido e chega ao Brasil em janeiro.

 

Empresa e governo do Estado analisam viabilidade de usar porto e hidrovia

 

O governador gaúcho, Eduardo Leite, esteve no complexo da GM em Gravataí e comentou que espera novos investimentos no futuro. A empresa norte-americana deve definir, até 2024, um outro ciclo de aportes, que poderá contemplar a planta gaúcha. “Não tem nenhum investimento agora, mas tenho convicção que, em breve, a montadora vai demandar investimentos e queremos dar todas as condições para a empresa fazer aqui no Estado”, aposta Leite.

 

“A ideia é criar todas as condições para que o Estado seja foco de investimentos da General Motors. Em quase 20 anos de fabricação, já houve ampliação da unidade e, por isso, todas as reformas que estamos empreendendo no Estado são para a GM e para outras empresas voltarem a olhar para o Rio Grande do Sul como acolhedor para seus aportes”, destacou Leite.

 

Enquanto isso, governo gaúcho e GM conversam sobre como viabilizar o canal logístico da hidrovia, vindo de Rio Grande até a Região Metropolitana. A via foi utilizada para trazer componentes para construir a nova plataforma. A alternativa poderia ser usada para importar autopeças, que entram por outros hubs logísticos nacionais.

 

A operação depende de questões ligadas a custos tarifários e também à condição da hidrovia. O terminal de Santa Clara, que é privado e operado pelo Tecon e fica no Polo Petroquímico de Triunfo, foi usado na chegada de maquinário para a ampliação. Leite também diz que o Estado tentará recuperar a importação de carros da marca que são produzidos no exterior e que hoje entram pelo porto de Itajaí (SC).

 

A importação era feita por Rio Grande. Em 2018, a GM trocou para o estado vizinho, depois de conseguir incentivo fiscal. O contrato foi renovado até 2020, após fracassar na tentativa de obter vantagens no Rio Grande do Sul. O vice-presidente da GM na América do Sul, Marcos Munhoz, aponta que a busca de PPPs deve garantir condições para viabilizar a hidrovia. (Jornal do Comércio-RS/Patrícia Comunello)