O Estado de S. Paulo
Crescimento maior da economia, com geração mais fácil de empregos, poderá ser um dos bons efeitos do recuo da inflação, depois do salto no fim do ano.
Crescimento maior da economia, com geração mais fácil de empregos, poderá ser um dos bons efeitos do recuo da inflação, depois do salto registrado no fim do ano. O primeiro efeito positivo é obviamente o alívio no orçamento da maior parte das famílias, embora alguns preços importantes, como os de habitação e transportes, ainda tenham incomodado. Mas a tendência de normalização parece inegável, depois de alguns meses difíceis. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,21% em janeiro, na menor variação para esse mês desde o início do Plano Real em 1994. Em dezembro, a alta havia sido de 1,15%. Com esse recuo, o aumento acumulado em 12 meses passou de 4,31% para 4,19%. Esse número ainda é superior à meta oficial deste ano (4%, com tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos), mas a acomodação gradual nos próximos meses parece uma aposta muito segura.
Esse detalhe aponta o segundo grande benefício. Com a inflação contida e no rumo da meta deste e do próximo ano, o Banco Central (BC) provavelmente poderá manter por um bom tempo a taxa básica de juros, diminuída de 4,50% para 4,25% na quarta-feira passada. Prevê-se no mercado um novo aperto da política monetária a partir do próximo ano, ou do fim de 2020, mas o panorama por enquanto é de calmaria nos preços. Pressões para alta de juros, se ocorrerem, virão mais provavelmente do exterior. Neste momento, no entanto, os juros nas principais economias são propícios à manutenção da política brasileira.
Mantida essa política, a oferta de dinheiro em condições mais favoráveis poderá estimular o consumo, a dinamização dos negócios e, um pouco mais longe, a criação mais rápida de empregos. Além disso, o corte dos juros tem diminuído o custo da dívida pública, baseado parcialmente na taxa básica, a Selic. A redução dos custos financeiros do Tesouro poderá apressar a arrumação das contas públicas, se o governo conseguir avançar em outras tarefas, como a conquista de maior eficiência na programação e gestão das despesas.
A acomodação dos preços de alimentação e bebidas facilitou, como se esperava, o retorno da inflação a um ritmo mais moderado. O item comida e bebidas ainda subiu 0,39% e teve um impacto de 0,07 ponto na formação do índice geral, mas seu comportamento foi muito mais favorável que nos meses finais do ano passado.
Em dezembro, esse item ainda aumentou 3,38% e seu impacto, de 0,83 ponto porcentual, foi o mais importante na composição do IPCA.
Em janeiro, vários grupos de preços avançaram menos que os da alimentação, ou chegaram mesmo a diminuir, mas seu peso, em muitos casos, é bem menor no resultado geral.
Especialmente bem-vindo foi o recuo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado com base nas despesas de famílias com rendimento monetário de 1 a 5 salários mínimos (o universo do IPCA é o das famílias com ganho mensal até 40 mínimos). A alta do INPC passou de 1,22% em dezembro para 0,19% em janeiro, menor variação para o mês desde a implantação do Plano Real. A alta em 12 meses passou de 4,48% para 4,30%. Os preços da comida aumentaram 0,45%, depois de terem subido 3,66% em dezembro. Esse recuo foi, de longe, o mais importante para a desaceleração do INPC.
A perda de impulso da inflação foi mostrada também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de seu Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), formado por três grandes componentes. A alta do indicador geral passou de 1,74% em dezembro para 0,09% em janeiro. A dos preços ao consumidor foi de 0,77% para 0,59%. A dos preços por atacado recuou de 2,34% para 0,13%, num sinal de menor pressão sobre o varejo. A do custo da construção subiu de 0,21% para 0,38%.
Mas a inflação contida ainda é, em boa parte, efeito do desemprego da capacidade ociosa das empresas. Mover a economia deve ser a prioridade. Conter a inflação poderá ser mais trabalhoso, mas o desafio será muito bem-vindo. (O Estado de S. Paulo/Antonio Carlos Pereira, diretor de opinião)