O Estado de S. Paulo
As preocupações com o coronavírus e o potencial impacto na economia mundial fizeram o dólar bater novo recorde, num movimento de valorização global. No Brasil, a moeda americana fechou em alta de 0,83%, cotada em R$ 4,32. Nas casas de câmbio, o dólar estava sendo negociado acima de R$ 4,50.
Na semana passada, a moeda já havia alcançado o maior patamar (nominal) da história com o temor de disseminação da doença pelo mundo ao bater R$ 4,28. Na ocasião, alguns bancos começavam a rever as previsões para o crescimento econômico da China e dos Estados Unidos. Ontem diversas instituições e consultorias divulgaram projeções mais negativas para o país asiático, alimentando a aversão ao risco.
O banco JPMorgan reduziu a previsão de crescimento para o país asiático de 4,9% para apenas 1% no primeiro trimestre. A
S&P Global Ratings cortou a previsão anual para o Produto Interno Bruto (PIB) chinês de 5,7% para 5% em 2020. “Embora seja esperada uma recuperação conforme o surto de coronavírus for equacionado, o início de ano ruim terá consequências sobre o crescimento em 2020, com algumas projeções já caminhando na direção de 5%”, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada, Silvio Campos Neto.
Por aqui, o mau humor internacional foi amplificado pela gradual piora de percepção em relação à economia doméstica. Até mesmo o IPCA, que subiu apenas 0,21% – abaixo do piso das projeções –, afetou o dólar, ao reforçar o quadro de lentidão da atividade.
No mercado acionário, a Bolsa também sofreu com as preocupações dos investidores com o coronavírus. O Ibovespa, principal índice da B3, fechou em queda de 1,23% – iniciado o mês de fevereiro no zero a zero. Um possível fluxo de saída de recursos e a notícia de que empresas chinesas já estariam suspendendo contratos com fornecedores de commodities levaram o Ibovespa abaixo do nível de 114 mil pontos, com forte queda das ações de empresas exportadoras de matéria-prima, como Vale, siderúrgicas e companhias de papel e celulose.
Outra preocupação é que, no Brasil, já há setores, como o de eletroeletrônicos, que indicam chance de paralisação das atividades por conta da falta de suprimentos chineses, segundo a Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica
Assim, a Bolsa doméstica acabou, novamente, caindo mais do que as americanas. Em Wall
Street, por sinal, os agentes aproveitaram a piora do cenário para realizar um pouco de lucros, visto que, na véspera, os principais índices renovaram recordes. A Dow Jones recuou 0,91% e S&P 500, 0,54%.
Nos Estados Unidos, o relatório de emprego mostrou criação de 225 mil postos de trabalho, acima do teto das expectativas de analistas, que previam de 120 mil a 200 mil novas vagas. “Os dados contribuíram para uma semana de resiliência para a economia dos EUA e poderiam dar ao Fed mais tempo (antes de cortar juros novamente), uma situação favorável ao dólar”, avalia o analista sênior de mercado Joe Manimbo, do Western Union. De acordo com o especialista, o euro caiu hoje em reação a dados abaixo do esperado da economia alemã e a libra recuou em meio a novas preocupações com o período de transição do Brexit.
“O início de ano ruim terá consequências sobre o crescimento em 2020, com projeções já caminhando na direção de 5%”, Silvio Campos Neto, Economista da Tendências. (O Estado de S. Paulo/Altamiro Junior e Luís Eduardo Leal)