O Estado de S. Paulo
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vendeu a fatia de 9,6% das ações com direito a voto (ordinárias) que detinha da Petrobrás por cerca de R$ 22 bilhões. O movimento é simbólico: reduz drasticamente o investimento do banco de fomento em empresas e, ao mesmo tempo, marca a redução da participação do governo na estatal. Hoje, o governo detém 50,2% da petroleira.
Em pouco mais de seis meses, o governo vendeu, indiretamente, quase 13% das ações ordinárias da Petrobrás, em ofertas públicas de ações na Bolsa. No ano passado, a Caixa vendeu 3,2% e embolsou R$ 9,6 bilhões. Para que a participação do governo caia abaixo de 50% seria necessário mudanças na lei do petróleo. Hoje, a regra determina que o governo precisa deter 50% mais uma ação ON da Petrobrás.
O negócio aconteceu por meio de uma oferta subsequente de ações no Brasil e nos Estados Unidos, e teve alta demanda entre os investidores, mesmo em um cenário de alta volatilidade por conta das incertezas com o coronavírus. Essa foi a maior venda de ação da história do BNDES. A Petrobrás representava mais de 40% da carteira de investimentos do banco de fomento, que ainda tem as ações preferenciais da petrolífera, aquelas sem direito a voto. Ao todo, foram vendidas nessa operação 734,2 milhões de ações da estatal detidas pelo BNDES, por R$30 cada ação, um desconto de 1,5% em relação ao fechamento do pregão de hoje. O BNDES tentou puxar o preço na oferta para R$30,25, apurou o Estadão/Broadcast. Esse foi exatamente o valor pelo qual a Caixa vendeu ano passado suas ações ordinárias na petroleira.
Se de um lado o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, cumprirá sua promessa de reduzir drasticamente a carteira de renda variável do banco de fomento, de outro ainda ajudará as contas públicas. Com o lucro da venda, o BNDES deve ter um resultado muito robusto em 2020, implicando em mais dividendos à União. Historicamente responsável pela maior parte dos repasses ao governo, em 2019 o banco de fomento contribuiu com R$ 9,5 bilhões para o resultado primário. Montezano, inclusive, passou essa semana nos Estados Unidos para participar do roadshow, que são as reuniões com investidores, em meio à oferta da Petrobrás.
No fim do ano passado, o BNDES deu a largada em seu processo de venda de participações, oferecendo sua fatia na Marfrig e iniciando a saída das chamadas “campeãs nacionais”. Embolsou R$ 2 bilhões com o movimento. Ao longo de 2019, o braço de participações do banco de fomento, o BNDESPar, também vendeu ações no mercado, como Petrobrás e Vale. No total, elas somaram R$ 15,9 bilhões. No plano, está trabalhar mais em setores como saneamento e iluminação pública, além de infraestrutura.
No final do ano passado, ao apresentar o planejamento estratégico do banco até 2022, Montezano criticou o crescimento bilionário da carteira nos governos do PT e apresentou dados para mostrar que a rentabilidade do investimento nas participações acionárias foi ruim, ficando em 50% do CDI, que é a referência para investimentos em renda fixa.
O BNDES ainda tem uma grande fatia da Petrobrás, mas nas ações preferenciais, que não dão direito a voto. Elas valem mais de R$ 30 bilhões, mas as vendas devem ocorrer sem pressa, ao longo deste ano, para não pressionar o valor do papel.
Depois da mega oferta da Petrobrás, o BNDES deve voltar a tocar a venda de sua participação no frigorífico JBS, da família Batista. O investimento deu origem a muitos ruídos envolvendo o banco de fomento, mais recentemente com a contratação de auditoria que investigou eventuais ilicitudes. Os bancos de investimento que coordenarão a operação já estão contratados e estavam apenas esperando a oferta da Petrobrás para seguirem com o negócio. A ideia é fazer a operação em duas tranches, vendendo metade da sua participação agora, o que representa algo em torno de R$ 8 bilhões. Na fila ainda para 2020, estão ainda Copel e Tupy. Ainda há nomes como Suzano, Klabin, Cemig, Embraer e Vale, mas nem todas as vendas ocorrerão neste ano. (O Estado de S. Paulo/Fernanda Guimarães)