O Estado de S. Paulo
Depois de dois anos de avanços, a produção industrial do País caiu 1,1% em 2019. Puxado pelo desastre de Brumadinho, segmento extrativista recuou 9,7%, pior resultado desde 2003.
A indústria brasileira interrompeu em 2019 a trajetória de recuperação iniciada após a recessão econômica. A produção encolheu 1,1%, depois de dois anos consecutivos de avanços, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgada ontem pelo IBGE.
O resultado da pesquisa foi recebido por economistas como um sinal de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central possa fazer novo corte na taxa básica de juros, a Selic, em março.
Analistas ouvidos pela reportagem, porém, ainda estão cautelosos sobre reduzir suas estimativas seja para o crescimento da economia seja para a taxa básica de juros. Tanto o Banco Mizuho quanto o Banco ABC Brasil, por exemplo, mantiveram suas apostas em apenas mais um novo corte da, dos atuais 4,50% para 4,25% ao ano na reunião do Copom de hoje.
“(A pesquisa) Reforça o cenário de corte de juros a 4,25%, mas não necessariamente aumenta as chances de novo corte em março, porque a perspectiva é de que os dados melhorem ao longo do ano “, avaliou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, que espera uma recuperação industrial em 2020, impulsionada pelos estímulos defasados do corte de juros, pelo crescimento do mercado de crédito e pela retomada do emprego.
O economista sênior do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier, diz que os indicadores antecedentes ainda sustentam a expectativa de um crescimento na produção industrial em 2020, que deve encerrar o ano com alta de 1,90%.
Na passagem de novembro para dezembro, a indústria recuou pelo segundo mês consecutivo, eliminando assim os avanços obtidos nos três meses anteriores. Ao fim de 2019, a produção industrial brasileira desceu ao pior patamar desde maio de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros.
O gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Macedo, acredita que houve uma antecipação da produção para atender às datas importantes do comércio, como Black Friday e Natal, o que levou a um aumento nos estoques. Como houve piora nas exportações em 2019, especialmente para a Argentina, os empresários se viram obrigados a conceder férias coletivas e cortar a produção na reta final do ano, uma vez que o consumo doméstico não deu conta de reduzir o volume estocado.
Brumadinho
No fechamento de 2019, o resultado foi fortemente impactado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, em 25 de janeiro. A produção das indústrias extrativas encolheu 9,7% em 2019, pior resultado da série histórica iniciada em 2003.
No entanto, houve perdas também na maioria das atividades da indústria de transformação, que teve alta de apenas 0,2% no ano.
“No ano, Brumadinho afeta o resultado. Para além disso, tem predomínio de atividades em queda. Das 26 atividades investigadas, 16 estão no campo negativo”, lembrou Macedo.
A indústria alimentícia foi a que mais ajudou a evitar uma queda ainda maior na indústria em 2019, graças à demanda por carnes. Entre as categorias econômicas, apenas os bens de consumo escaparam do vermelho, com avanço de 1,1%, ajudados pela liberação de saques de contas do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS) e pelo aumento no número de pessoas trabalhando, o que elevou a massa de salários em circulação na economia, mencionou o pesquisador.
A fabricação de bens de consumo duráveis subiu 2,0%, impulsionada pela maior produção de eletrodomésticos da “linha branca”, que incluem geladeira e máquina de lavar (10,7%). Os bens de consumo semi e não-duráveis cresceram 0,9%.
Por outro lado, os bens intermediários encolheram 2,2%, pressionados, sobretudo, pela redução nas indústrias extrativas. Já bens de capital, que indicam investimentos, diminuíram 0,4%. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Cícero Cotrim e Thaís Barcellos)