O Estado de S. Paulo/Notas & Informações
Brasil e América Latina devem ganhar impulso, escapar da estagnação e crescer mais em 2020 e 2021, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas continuarão correndo atrás de outros emergentes e de vários países do mundo avançado. Com menor incerteza depois de aprovada a reforma da Previdência, juros baixos e inflação moderada, a economia brasileira deve avançar 2,2% neste ano e 2,3% no próximo. O crescimento em 2019 foi estimado em 1,2%. Excluída a Venezuela, a expansão econômica de América Latina e Caribe deve chegar a 1,6% e 2,3% neste ano e no seguinte, bem abaixo do desempenho global. As taxas de crescimento calculadas para o produto mundial são de 3,3% e 3,4%, sustentadas principalmente pelos emergentes da Ásia (5,8% e 5,9%).
Apesar de avanços importantes nos últimos 20 anos, a maior parte dos países latino-americanos ainda é muito dependente da exportação de produtos básicos. Isso continua sendo um de seus pontos fracos. A retomada econômica projetada para 2020 e 2021 é baseada, em boa parte, na expectativa de maior crescimento global e de recuperação dos preços das commodities. Os cálculos foram feitos antes de conhecido o surto de coronavírus, iniciado na China.
“Precisamos monitorar riscos do coronavírus para a economia internacional”, disse o diretor de Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner, ao apresentar o relatório. É cedo, acrescentou, para estimar efeitos do surto para a América Latina. Mas completou com um toque otimista: em casos semelhantes, na China, o impacto econômico foi superado em alguns trimestres.
Mas o quadro inclui outros pressupostos otimistas. Um deles é a redução das tensões comerciais, depois da fase 1 do acerto entre Estados Unidos e China. Além disso, agora se admite como provável um Brexit (divórcio entre Reino Unido e União Europeia) mais ordenado e menos danoso às economias diretamente envolvidas.
Para o Brasil, o panorama, embora bem melhor que o das projeções de outubro, ainda inclui vários detalhes complicados. A confiança dos participantes do jogo continuará dependente da pauta de ajustes e reformas. Será essencial, segundo o relatório, garantir uma dívida pública sustentável e aumentar o potencial de crescimento. Se houvesse espaço para mais detalhes, o relatório cuidaria da necessária elevação do investimento, da melhora da infraestrutura, da formação de mão de obra e da abertura do mercado, entre outros pontos bem conhecidos.
O esforço de ajuste, continuação do trabalho desenvolvido no governo anterior, é inegável. A redução dos juros e a melhora das condições de financiamento têm sido uma contribuição importante. Mas pouco se tem feito, fora disso, para dinamizar a produção e facilitar a redução do desemprego. Em alguns casos – a educação talvez seja o exemplo mais evidente e mais inquietante – pode-se falar de retrocesso. Mas o relatório passa longe desse tipo de consideração.
A perspectiva de mais um ano de recessão na Argentina é péssimo sinal para o Brasil. O mercado argentino é muito importante para as exportações brasileiras de manufaturados, especialmente de veículos. Pelas novas projeções, o Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina encolherá 1,3% em 2020, no terceiro ano consecutivo de retração. A tabela inclui recuos de 2,5% em 2018 e de 3,1% em 2019. Uma reação de 1,4% está calculada para 2021.
Na quarta-feira passada, enquanto se divulgavam as novas projeções, o ministro argentino da Economia, Martin Guzmán, se reunia em Washington com funcionários do FMI para discutir a próxima etapa da ajuda financeira a seu país.
Se as hipóteses mais otimistas se confirmarem, o governo brasileiro ainda terá de enfrentar complicadas tarefas para consolidar as finanças públicas e movimentar a economia. As reformas tributária e administrativa estão na pauta, mas faltam informações claras sobre os dois temas. Faltaram, obviamente, estudos e planejamento sobre esses assuntos. (O Estado de S. Paulo/Notas & Informações)