O Estado de S. Paulo
Os pedestres continuam sendo as principais vítimas do trânsito na capital paulista, uma situação que, apesar de sua gravidade e de sua persistência, não levou ainda o poder público a tomar as medidas necessárias para sua mudança. Segundo dados do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo (Infosiga), os pedestres mortos no ano passado foram 381. O fato de o aumento ter sido relativamente pequeno em relação a 2018 (374) mostra apenas que o elevado número de pedestres mortos é um problema que não é de hoje.
Dados adiantados pelo Infosiga em setembro do ano passado chamaram a atenção para outro aspecto importante do problema: o número cada vez maior de idosos entre os pedestres atropelados. Entre janeiro e agosto de 2019, o número de idosos vítimas de atropelamento na capital aumentou 11% em relação ao mesmo período de 2018. No Estado, o crescimento foi de 91 para 101 mortos, o que mostra que o fenômeno não se circunscreve à capital. Quanto a pedestres de todas as idades, o aumento foi de 3%.
A situação dos pedestres na capital se mostra mais chocante quando se lembra que o número total de mortos em acidentes de trânsito diminuiu 1,5% em 2019. Sem menosprezar investimentos feitos em outros setores de trânsito – todos eles têm sua importância –, não há como negar que os destinados à proteção dos pedestres deixam a desejar, o que explica a teimosa estatística negativa relativa aos que andam a pé. É verdade que reduzir os riscos que correm os pedestres exige tratar de vários aspectos do problema, como campanhas de educação de motoristas, motociclistas e ciclistas, além dos próprios pedestres, que com frequência também cometem imprudências. Além de uma fiscalização que puna com rigor qualquer ato ou comportamento que ponha em risco o pedestre, deve-se melhorar a sinalização de trânsito.
A forma de tratar a segurança do trânsito precisa mudar. Chega a ser escandaloso que os milhões de paulistanos que se deslocam a pé diariamente não recebam a atenção devida, o que redunda em tão elevado número de mortos em acidentes. O que se faz hoje é pouco, diante do que é preciso. Os pedestres têm de se tornar uma prioridade da segurança do trânsito. A isso devese acrescentar a reforma das calçadas – boa parte das quais em estado lastimável, cheias de buracos – pelas quais eles transitam. É um programa caro e difícil de executar, mas tornou-se intolerável a situação em que se encontram os que andam a pé, a de campeões das mortes por acidente de trânsito na capital.
Os dados do Infosiga trazem outras informações. O grupo situado em segundo lugar no número de mortos é o de motociclistas. Ele diminuiu de 361 em 2018 para 311 em 2019, o que é um bom sinal, mas continua muito elevado. Também nesse caso, a melhor educação é um elemento decisivo. Apesar de serem eles os principais interessados, muitos resistem, seja a assistir aos cursos que lhes são oferecidos, seja a pôr em prática o que ali aprendem. Essa é uma dificuldade a ser vencida pela Prefeitura. Ela deve ao mesmo tempo manter rigorosa fiscalização para punir as manobras ilegais e perigosas executadas no trânsito, pelas quais os motociclistas ficaram conhecidos e que estão na origem de muitos dos acidentes em que se envolvem.
Além do terceiro grupo em número de mortos – os motoristas de carros, ônibus e caminhões, cuja situação permaneceu praticamente inalterada (de 108 em 2018 para 106 em 2019) –, merece destaque o caso dos ciclistas. Em termos porcentuais, o aumento de mortos em acidentes entre eles foi considerável, de 63,6%, de 22 em 2018 para 36 em 2019. Isso se explicaria, de acordo com especialistas, pelo aumento do uso de bicicleta e pelo comportamento imprudente de parte dos ciclistas. Muitos ciclistas continuam a não respeitar as leis de trânsito, colocando em risco a sua e a vida de outros. Ainda neste caso, a educação é o melhor remédio.
Não há como negar que os investimentos na proteção de pedestres deixam a desejar. (O Estado de S. Paulo)