O Estado de S. Paulo/BRPolítico
O Ministério do Meio Ambiente já discute internamente proposta para que as frotas de ônibus que circulam nos principais centros urbanos substituam o diesel pela adoção de gás. Em entrevista ao BRPolitico, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que a medida, que está passando por estudos técnicos para sua viabilização, tem como objetivo garantir melhor qualidade de ar nas principais cidades.
Segundo Salles, a troca pelo gás seria feita num primeiro momento da execução do plano. Numa segunda fase, os ônibus poderão se tornar veículos elétricos. O ministro disse que já está conversando com representantes da indústria automotiva, checando a viabilidade de financiamentos internacionais para a mudança e estima que a ideia poderá estar formatada como projeto até abril. A seguir, os principais trechos da entrevista:
BRP – O Ministério do Meio Ambiente estuda propor a troca dos ônibus a diesel pelos movidos à gás?
Ricardo Salles – Na parte das medidas para melhora das questões ambientais urbanas, estamos propondo avanços importantes. Na questão da qualidade do ar, já estamos negociando, e isso está bastante avançado, um recurso internacional para ajudar na substituição de toda a frota de veículos a diesel dos centros urbanos. Ou seja, transporte coletivo. Substituí-los por veículos a gás, que é uma maneira de melhorar a qualidade do ar dos centros urbanos. E depois, num segundo momento, entraria o veículo elétrico. Mas, no primeiro momento, é a gás. Isso já está em estudo para ver como vamos por em prática. E isso se encaixa nos nossos projetos de combates às mudanças climáticas. Então, deverá ter linha de financiamento estrangeira para isso. Com juros praticamente zero. Tudo subsidiado. É uma coisa que dá para fazer. E faz todo o sentido fazer.
BRP – O senhor já conversou com o setor sobre essa ideia?
Já estamos falando, inclusive, com a Anfavea. Com o pessoal que produz caminhões e ônibus aqui no Brasil, para ver como é que viabiliza uma mudança de matriz dessa natureza que seja factível num curto prazo. Não adianta fazer muito no longo prazo. Tem de fazer coisas factíveis no curto prazo.
BRP – E eles topam?
Eles topam. O problema é o que todo mundo fala: precisa fazer algo que seja realista. O Brasil tem mania de desenhar projetos que não ficam de pé. Aí, o projeto não vai para frente e ninguém sabe o porquê.
BRP – O que será necessário para viabilizar essa medida?
Para viabilizar vai precisar de linha de crédito, financiamento, escolher a tecnologia adequada. Não adianta criar a melhor tecnologia do mundo. Tem de ser a tecnologia que se adapta ao Brasil. Tem uma série de entraves, mas a gente acha que dá para fazer. E precisa ser firme. Mudança de matriz energética é decisão de governo. Ponto. Tem de ajudar os caras a saírem das matriz de diesel, passar para gás. E isso também dá para fazer na parte dos geradores. Tipo gerador de energia de prédio. Tem muitos a diesel. Você transforma a matriz para gás.
BRP – Em quanto tempo isso poderá ser posto em prática?
O prazo a gente ainda não sabe. Depende muito de qual tecnologia a gente vai adotar. Com uma tecnologia mais simples, de fácil implementação, em um ano e meio, em tese, dá para fazer um projeto grande. Se for a tecnologia mais complexa, aí demora mais. Três anos em diante.
BRP – Dá para ser neste mandato do presidente Jair Bolsonaro?
Dá para ser nesse mandato.
BRP – As mudanças também podem ser feitas para os caminhões?
Começa com transporte coletivo metropolitano. Ônibus e micro-ônibus, tudo que é transporte coletivo nos grandes centros urbanos. Essa é a primeira fase. Mudar tudo isso para gás. Num segundo momento, podemos pensar na frota de caminhões. Mas estamos tratando de ônibus dos grandes centros urbanos.
BRP – O texto do projeto já está pronto?
Para o projeto ficar mais robusto precisa mais uns dois meses. Hoje, você tem uma ideia sendo discutida. Para ter projeto mesmo, com rubrica orçamentária, acho que lá para abril deverá estar pronto.
BRP – O presidente concorda com a proposta?
O presidente acha que tem de fazer. Agora, o problema é quanto que isso custa. Que dá para fazer e que ele acha bom, ele concorda. Agora, passa pela economia a discussão sobre com que verba, a que custo. Tem desoneração? Não tem desoneração? Tem incentivo? Não tem incentivo? Mas está na nossa mesa, no nosso ministério, sendo discutido tecnicamente e com o setor da indústria automotiva. (O Estado de S. Paulo/BRPolítico/Marcelo de Moraes)