Pioneiro
Os bombeiros estão acostumados a trabalhar sob pressão e agir instintivamente para salvar a vida das vítimas de acidentes de trânsito. A tensão durante o resgate, a corrida contra o tempo e o cuidado ao retirar as pessoas de dentro de um ônibus puderam ser observadas durante um treinamento inédito realizado na sede da empresa San Marino, em Caxias do Sul na manhã de ontem, quinta-feira (16). Hoje, não existe no Brasil um manual de salvamento a vítimas de acidente.
A Marcopolo cedeu os veículos para a corporação e a equipe de bombeiros simulou o resgate de vítimas presas às ferragens em acidentes envolvendo ônibus e micro-ônibus. O treinamento contou com a participação de 28 bombeiros militares do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais e de dois bombeiros civis da empresa.
Na simulação, os bombeiros usaram um ônibus tombado para demostrar como seria o resgate de duas vítimas que estavam dentro do veículo. Eles retiraram a saída de emergência, uma espécie de janela que fica no teto do veículo, para resgatar as vítimas.
Depois da retirada, também conversaram com as vítimas resgatadas, como fariam em um atendimento real, caso a pessoa estivesse consciente, para verificar o estado clínico inicial da vítima, e informar a equipe de emergência, que a levaria para atendimento no hospital.
Qualificação no atendimento aos acidentes
O subcomandante do 5º Batalhão de Bombeiro Militar de Caxias do Sul e vice-presidente da Comissão Nacional de Salvamento Veicular, Major Maurício Ferro Corrêa, explica que não existe no Brasil um manual de salvamento a vítimas de acidente. O treinamento, segundo ele, pretende qualificar a atuação dos profissionais, que já têm experiência em resgates, para atuar neste tipo de acidente:
“Não temos um manual com instruções para resgates de vítimas de acidente de trânsito. Uma ocorrência como a que simulamos geralmente envolve várias vítimas e operações simultâneas em um mesmo cenário”.
Ele explica que o treinamento proporciona acesso às características dos veículos de transporte de passageiros fabricados no Brasil, e esse conhecimento ajuda na hora do resgate:
“Pensamos em criar um manual de salvamento e, para isso, estamos estudando as características dos veículos para alinhar técnicas de desencarceramento e resgate de vítimas. Esse material será repassado para todas as corporações, talvez de maneira digital”.
“Os modelos de ônibus e micro têm particularidades diferentes. O treinamento é importante para que os profissionais saibam como o veículo é feito, de que material, tenham informações sobre a suspensão, o tanque de combustível e, assim, possam determinar a maneira mais segura e eficaz de resgatar a vítima”, explica.
Ele aponta ainda que, no caso de uma saída estar obstruída, conhecer a estrutura do veículo ajuda a equipe durante o resgate.
“Se a janela ou a saída de emergência estiver obstruída, o acesso tem que ser pela lateral, pelo teto, parte inferior ou pela frente do ônibus. No treinamento, simulamos a retirada das vítimas de um acidente com micro-ônibus. O motorista foi retirado com o banco do ônibus, pela lateral, inversa a porta e os passageiros pela traseira do veículo. O piso, por exemplo, seria muito difícil de ser retirado, porque tem os pneus e o chassi, é um material mais resistente”, explica.
Simulação
Na última quarta, os bombeiros também participaram de simulações. Eles treinaram o resgate com a retiradas das vítimas, etapa por etapa, cronometrando o tempo, e analisando cada detalhe, para aperfeiçoar a técnica. No treinamento foram usados, por exemplo, equipamentos que não estão disponíveis em Caxias para testar os que realmente servem para ser usados no resgate.
Madureira lembra ainda que a empresa já cedeu ônibus para simulações, mas está é a primeira vez que acontece um treinamento deste nível:
“Esse treinamento nunca foi feito, é inédito e vamos poder avaliar o passo a passo para auxiliar os bombeiros, repassando as informações de cada modelo”.
À tarde, os profissionais vão visitar a empresa para ter acesso a fabricação dos veículos.
Fabricação com foco em segurança
O supervisor de Engenharia da Marcopolo, Lucas Roberto de Oliveira, ressalta que a empresa atende todas as normas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Ele ressalta que o foco é garantir a segurança dos motoristas e passageiros.
“Respeitamos todas as normas de segurança e nos preocupamos com os materiais que usamos para produzir os ônibus rodoviários para preservar as pessoas. Em caso de incêndio, o material não ficaria pegando fogo por muito tempo. Testamos os materiais com a nossa equipe de laboratório para manter a qualidade e o padrão e desenvolvemos o veículo num contexto voltado a segurança”.
Ele ressalta ainda que as simulações ocorrem virtualmente e que depois a equipe testa na prática para validar os resultados. (Pioneiro/Aline Ecker)