AutoIndústria
A Renault começou a vender seus veículos no Brasil em 1993 e a produzi-los aqui somente cinco anos depois, com a inauguração do complexo industrial Ayrton Senna, em São José dos Pinhais (PR).
Desde as primeiras unidades importadas, já foram vendidos mais de 2,8 milhões de automóveis e comerciais leves da marca no País. Pouco mais de 2 milhões, perto de 75%, somente nos últimos dez anos.
Esse porcentual enfatiza o que já é perceptível nas ruas, mesmo para os menos afeitos ao mundo automotivo: a última década consagrou-se como o melhor período da Renault no mercado brasileiro.
A história da marca no Brasil a partir da produção local tem, assim, duas fases bem distintas e quase inversas. A primeira, com exceção do pioneiro Scénic, sucesso de vendas e que inaugurou o conceito de minivans no mercado brasileiro, marcada por tímidos índices de participação e baixos volumes produtivos.
Já a segunda, como atestam os 2 milhões de veículos vendidos entre 2009 e o ano passado, de muito mais acertos. O primeiro, e do qual derivam os demais, foi a drástica mudança da linha de produtos oferecida no País a partir da dupla Logan e Sandero, apresentada em 2007.
Os dois modelos, até pelo maior despojamento, entregaram aos consumidores brasileiros o que as famílias de Clio e Megane, coadjuvantes do Scénic na primeira década, não poderiam: preços competitivos aliado a espaço interno. Resultado: a aceitação foi imediata.
Se até então o melhor resultado de vendas da Renault fora 73,6 mil unidades em 2007, já em 2008 pulou para 115,1 mil licenciamentos e desde então a empresa só viu esse desempenho melhorar até atingir 241,6 mil veículos em 2012, ainda seu recorde histórico.
Por dois milhares essa marca não foi superada no ano passado, quando a linha formada por Kwid, Sandero, Logan, Duster, Captur, a picape Oroch, os comerciais leves da linha Master e os eletrificados Zoe e Twizy somaram 239,2 mil emplacamentos.
Se por muito pouco não bateu o recorde de unidades vendidas, a Renault estabeleceu 9% de participação em automóveis e comerciais leves, a maior desde que os primeiros importados, como os modelos 21, 19 e Twingo, chegaram aqui, no começo dos anos 90.
Com isso, assegurou também a quarta colocação no ranking das marcas mais negociadas pela primeira vez na história. E, se considerado apenas o segmento de automóveis, subiu para o terceiro lugar, com as 217,3 mil unidades emplacadas, equivalentes a 9,6% de penetração.
As vendas da empresa de 2019 foram 11,3% maiores do que as de 2018, contra os 7,4% de média do mercado brasileiro. Os 9% de participação no mercado total superaram em 0,3 ponto porcentual a melhor marca até então registrada e estabelecida também no ano anterior.
O desempenho e os ótimos números de 2019, na verdade, apenas deram sequência à curva ascendente e ininterrupta de participação desenhada pela Renault desde 2009. Naquele ano, com 117,5 mil veículos, a Renault deteve 3,9% dos licenciamentos. Passou para 4,8% em 2010, saltou para o patamar de 6,6% até 2013 e superou os 7% nos quatro anos seguintes. Em 2018 rompeu mais uma barreira ao cravar 8,7%, com quase 215 mil veículos licenciados.
Desde 2016, as vendas da marca cresceram 90%. Nesse mesmo período, o mercado brasileiro evoluiu 33%, um terço do ritmo da montadora. Em boa medida, esse salto está atrelado a outro dos acertos na década: a incursão da marca nos carros de entrada em 2017, depois de ingressar com o Sandero nos hatches pequenos, o maior segmento do País, responsável por 32% das vendas.
Carros de entrada, os mais baratos, somaram 275 mil unidades em 2019, mais de 10% do mercado brasileiro. Era fatia relevante da qual a Renault nunca desfrutou e, de cara, o Kwid justificou a escolha do personagem Hulk como garoto-propaganda de sua campanha de lançamento. Mostrou-se forte o suficiente para brigar com concorrentes consagrados de marcas líderes e conquistar a ponta após somente dois anos.
Desde seu lançamento, em agosto de 2017, já foram negociadas 175 mil unidades do compacto, quase a metade, 85 mil, só no ano passado e que representaram 31% do segmento disputado ainda por outros cinco veículos.
Empossado em janeiro de 2019, o presidente Ricardo Gondo inicia agora seu segundo ano à frente da operação brasileira com a missão de ao menos manter a atual participação da marca e, com algum vento favorável, atingir o índice acalentado há muito pela empresa.
Em 2017, Olivier Murguet, então responsável pela operação latino-americana, revelou que do planejamento global da montadora constava a meta de vender 600 mil veículos na América Latina em 2022 e deter 10% das vendas do mercado brasileiro até antes disso.
Dois anos depois, porém, os quadros automotivos regional e mundial, assim como do próprio grupo francês, mudaram sensivelmente. Se o mercado brasileiro, o maior da América Latina, reagiu bem nesse período, o argentino, segundo maior, despencou para aquém da metade.
Em visita ao Brasil no fim do ano passado, Murguet, agora principal responsável global de vendas da Renault, admitiu, em entrevista ao portal Gazeta do Povo, que ultrapassar os 10% agora não é tão prioritário mais.
“Subir o market share acima desse patamar pode ser muito caro. A gente vai se concentrar entre 9% e 10% para manter a posição e fortalecer nossa base de rentabilidade”, com intenção de crescimentos de receita para sustentar investimentos”, afirmou o executivo à publicação.
Para isso, depois de abandonar a ideia de ter aqui a picape grande Alaskan, a Renault trabalha em dois projetos mais imediatos e que devem chegar ao mercado no transcorrer de 2020: o primeiro facelift no Kwid e a nova geração do SUV Duster, até para reforçar seu desempenho no segmento de maior crescimento no País, também disputado pelo Captur. (AutoIndústria/George Guimarães)