O Estado de S. Paulo
Trabalhadores da Ford de Camaçari (BA) realizaram ontem assembleia para discutir a proposta da empresa para reduzir custos de produção e, assim, atrair aportes para a produção de novos veículos. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local, Júlio Bonfim, disse que as negociações envolvem investimentos de R$ 1,4 bilhão.
Segundo Bonfim, o que o presidente da Ford América do Sul, Lylle Watters, pediu na semana passada, em reunião com os trabalhadores, “é a precarização da mão de obra”. Proposta aprovada pelos trabalhadores e entregue à empresa, diz ele, evitaria esse quadro e ainda poderia garantir a produção de três novos veículos na unidade, todos utilitários-esportivos, segmento que cresce no Brasil e é mais rentável.
Hoje a fábrica produz os modelos Ka e EcoSport. A Ford não comentou o assunto ontem. Na quarta-feira, Lylle informou que a empresa tem urgência em reduzir custos de produção na Bahia para garantir investimentos em novos produtos. A unidade passou a ser a única fábrica de carros do grupo no País após o fechamento, em novembro, da planta de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
O executivo citou vários custos que, segundo ele, são maiores em Camaçari do que na média das demais empresas do setor. Um deles é o da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) que é 35% superior aos demais. Também afirmou que os custos das peças são mais altos pois grande parte dos fornecedores está na região Sudeste, assim como os gastos com transporte dos carros, por causa da distância dos polos de maior consumo, como São Paulo.
Neste ano, os cerca de 8,5 mil funcionários do complexo, incluindo os das autopeças, receberam R$ 19,6 mil de PLR. “A empresa quer pagar R$ 14 mil aos funcionários da Ford e R$ 4 mil aos das autopeças, mas não concordamos”, disse Bonfim.
A proposta da entidade é de R$ 15,5 mil em 2020, R$ 16,5 mil em 2021, R$ 17,5 mil no ano seguinte e R$ 18 mil em 2023, período em que os trabalhadores teriam estabilidade no emprego. O sindicalista disse ainda que a Ford quer congelar salários por quatro anos, outra medida que não é aceita.
Fábrica do ABC
Lylle também afirmou, na quarta-feira, que há outros grupos interessados na compra da fábrica do ABC, sem citar nomes. Há rumores no mercado de que a nova interessada seria a chinesa BYD, que produz ônibus elétricos em Campinas (SP), mas nenhum dos lados confirmou.
Após dez meses de negociações, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, dono da brasileira Caoa, admitiu serem “remotas” as chances de fechar o negócio.
“O que a Ford pediu é a precarização da mão de obra, mas nós não concordamos”, Júlio Bonfim, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)