Ford confirma negociações em andamento com a Caoa

Diário do Grande ABC

 

Com o fim das atividades da Ford em São Bernardo, a montadora norte-americana confirmou que as tratativas com a Caoa para a venda da unidade estão em andamento. A produção foi encerrada ontem, com a fabricação dos últimos 15 caminhões, dos modelos Cargo e F- 4.000. Todos foram enviados a concessionárias para comercialização no mercado.

 

De acordo com nota divulgada ontem, a Ford reiterou o encerramento da atividade fabril na região por causa da decisão de sair do segmento de caminhões na América do Sul. “As negociações envolvendo a venda da planta para o grupo Caoa ainda estão em andamento, sem decisão até o momento, e a Ford reitera que continua fazendo todos os esforços cabíveis para alcançar um resultado positivo”, informou a empresa.

 

O entrave nas negociações estaria no pedido de concessão de empréstimo da Caoa ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O secretário da Fazenda e do Planejamento do Estado de São Paulo, Henrique Meirelles (MDB), chegou a dizer que a empresa não tinha conseguido o financiamento. Em evento realizado ontem na Capital, o governador João Doria (PSDB) afirmou que continua acreditando em um entendimento entre as partes.

 

Questionado sobre as negociações, o BNDES afirmou ao Diário, por meio de nota, que “se reuniu com a Caoa, como faz com qualquer potencial cliente”. “No entanto, não houve formalização de nenhuma proposta de financiamento e a empresa não possui operação com o banco”, informou. A Caoa reiterou que ainda não há novidades sobre o assunto.

 

Para tentar destravar a questão, o SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) deve solicitar reunião com o BNDES, conforme informou o ex-presidente da entidade representativa dos trabalhadores, que atualmente está à frente do Tid Brasil (Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento), Rafael Marques.

 

Segundo ele, o intuito é falar sobre a importância do negócio. “É uma planta que vem com tecnologia e propriedade intelectual norte-americana e transferência de tecnologia vinculada. Por si só já é motivo suficiente (para o empréstimo), ainda mais porque é uma montadora brasileira”, disse, destacando como fundamental não deixar a área de 1,2 milhão de m² parada.

 

“A produção, que terminou hoje (ontem), vai abastecer as revendas, e num prazo de cinco a seis meses vai ter caminhão rodando”, reiterou Marques, destacando que está sendo feito o processo de manutenção das linhas. “Se esvazia o sistema hidráulico das máquinas, desenergiza os painéis, deixa o maquinário para poder rodar em (até) seis meses. Esse é o prazo da manutenção para a linha de caminhões. Em automóveis, fizeram para três anos, então em até três anos se reativa a fábrica de carros automaticamente.”

 

Por isso, o ideal é que a Caoa, que deve produzir caminhões, inicie o processo até abril, no máximo. “Se a Caoa chegar amanhã, em março ou fevereiro já estarão rodando caminhões. O mais complicado são as peças importadas, para isso é preciso ativar fornecedores fora do Brasil”, assinalou.

 

Último dia

 

Em nota, o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, agradeceu os funcionários pelo profissionalismo e dedicação. “Mesmo após o anúncio feito em fevereiro, eles nunca deixaram de cumprir com suas obrigações, produzindo produtos de altíssima qualidade e cuidando da segurança.”

 

A estimativa do sindicato é que a conclusão das 650 demissões seja feita até a próxima semana. Todos eles vão receber uma indenização no valor de até dois salários por ano trabalhado. “Amanhã (hoje) começa o processo de desligamento. Será uma média de 100 por dia”, informou o dirigente Adalto de Oliveira, o Sapinho, da coordenação do CSE (Comitê Sindical de Empresa) na Ford.

 

De acordo com Marques, cerca de 1.500 ex-trabalhadores da Ford se inscreveram para participar de possível seleção na Caoa, porém ele acredita que até 1.300 devem participar. “Uma parte já aposentou e, outra, conseguiu emprego.”

 

Watters afirmou que a ação em São Bernardo foi difícil, após 52 anos de história, mas necessária para a reestruturação dos negócios da empresa. “Temos uma visão otimista para o Brasil e o futuro da Ford, com a continuidade de nossas operações nas fábricas de Camaçari (Bahia) e Taubaté e no Campo de Provas de Tatuí (ambos em São Paulo)”, completou.

 

O último dia foi marcado por bastante emoção por parte dos trabalhadores da produção, que foram liberados ainda pela manhã. Porém, grande parte ficou até o início da tarde na empresa. “Foi muito triste porque ficamos separando as máquinas que utilizávamos. Mesmo assim, tenho sentimento de gratidão por ter feito parte dessa história”, disse Rafael Pereira, 28 anos, que trabalhou por seis na manufatura. (Diário do Grande ABC/Yara Ferraz)