Indústria 4.0 no setor automotivo

Segs

 

Vanguarda tecnológica permite a gestão do estoque de autopeças e dos racks em tempo real, com praticamente 100% de acuracidade

 

Projeto aprimorou a realização do inventário e zerou a defasagem entre os dados de estoque registrados no sistema ERP e a quantidade efetiva de peças no armazém

 

Outros benefícios obtidos com a implantação do projeto de IoT incluem: sistemas de alertas, transferências automáticas de estoque, geração de relatório de estoque, controle de movimentações em tempo real, rastreabilidade de movimentações, acessibilidade dos dados via multiplataformas, entre outros.

 

A Internet das Coisas (IoT, da sigla em inglês) chegou de vez para agregar mais inteligência, eficiência, controle em tempo real do estoque e incrementar a gestão logística e a produção no setor automotivo. Estes são os resultados do projeto pioneiro, que uniu as empresas Sawluz Informática e Taggen Soluções IoT, e foi implantado na fábrica da Faurecia PCMA (FMM), localizada no parque de fornecedores da Fiat Chrysler Automobiles (FCA Group), em Goiana (PE), na planta Jeep Nordeste.

 

A base do projeto é formada por beacons (pequenos dispositivos de identificação e localização em tempo real), que enviam sinais via bluetooth para gateways que se comunicam com a plataforma de serviços Link IOT, todos da Taggen, suportados pelo software na nuvem SW Stock, módulo do novo SawluzNet, um sistema focado em internet das coisas. Todas as soluções Taggen e Sawluz, criadas de acordo com as melhores práticas de desenvolvimento de softwares para a nuvem, podem rodar nos ambientes Microsoft Azure e AWS – Amazon Web Service.

 

Automação industrial

 

Em uma primeira etapa, os TaggenBeacons foram instalados em cerca de 400 racks, nos quais são colocadas as peças, tais como painéis frontais de instrumentos, painéis de porta, aerofólios e para-choques, que circulam entre a linha de produção da FMM, o estoque de segurança e o transporte para planta de montagem dos carros.

 

O primeiro e único momento de atividade manual deste processo ocorre quando o operador usa o smartphone com um aplicativo, disponível tanto para Android ou iOS, para associar as peças ao respectivo rack de transporte e armazenamento. Depois disso, todo o processo é totalmente automatizado, sem nenhuma outra interação humana, uso de leitores ou preenchimento de planilhas – quem olha de fora, não tem ideia de que o controle de estoque ocorre automaticamente, enquanto os racks são levados pelas empilhadeiras.

 

Assim, a FMM tem um sistema extremamente versátil de automação, pois os gestores sabem exatamente onde está o rack e quais as peças que estão nele, podendo gerar uma ampla gama de dashboards, relatórios com KPIs (Key Performance Indicators) e fazer controle e rastreabilidades das movimentações em tempo real com recebimento de avisos no caso de erros da movimentação dos racks, se eles ultrapassarem a “cerca eletrônica” do monitoramento realizado a partir do sinal emitido pelos beacons, que é recebido pelos gateways Taggen. Além disso, o sistema faz a emissão de alertas de safety stock por meio da parametrização das quantidades mínima e máxima definidas para cada tipo de peça no estoque.

 

Com 100% de confiabilidade

 

Wagner Oliveira, South America Regional CIO da FMM, esclarece que as peças do estoque de segurança são críticas para que a empresa garanta o abastecimento para a FCA Group – Jeep Nordeste, no caso de qualquer problema na linha de produção. “Implementamos, junto com a Taggen e a Sawluz, um controle automático e instantâneo por meio de tecnologia IoT e rodando na nuvem, reduzindo a intervenção manual dos nossos operadores e aumentando a eficiência no processo. Precisamos ter uma acuracidade entre a informação apresentada em nosso ERP com o que existe fisicamente na fábrica de 100%. Atingimos um nível de excelência, após pouco mais de três meses do novo sistema de IoT em funcionamento na planta de Goiana”, ressaltou o executivo.

 

A avaliação positiva é compartilhada por Watila Castro, Plant Manager FMM, ao informar que a implantação do projeto IoT, em conjunto com IT interno e as empresas Sawluz e Taggen, vai ao encontro de uma necessidade da planta em obter velocidade e acuracidade em tempo real dos níveis de safety stock, permitindo uma melhor visibilidade dos riscos perante ao cliente, bem como a definição de estratégias de recomposição do estoque. “Além disto, o projeto nos permite ter um controle do FIFO (First In First Out ) e também o controle do tempo de renovação/giro de estoque, que atualmente é parametrizado para cada três meses”, completa.

 

Tulio Polonio, gerente de Transformação Digital da Sawluz, informa que o módulo SW Stock, do novo SawluzNet, foi desenvolvido para atender as demandas da Transformação Digital e da Indústria 4.0, que exigem mais agilidade no ambiente fabril e sincronização com as demais áreas administrativas. “Foi um projeto desafiante e de muito aprendizado, pois ouvimos as necessidades da FMM, que já era nosso cliente em outros serviços, para implementar a parceria com a Taggen, que entrou com os beacons, os gateways e a plataforma de serviços na nuvem Link IoT, rodando em Azure, que se comunica com o SW Stock, rodando na nuvem AWS. Nos aprofundamos no entendimento do fluxo de informações, das diretrizes de segurança e de gestão de dados do cliente. Contamos com um suporte excepcional do time local da FMM”, relata.

 

Projeto já em fase de ampliação

 

Em função do sucesso alcançado no monitoramento dos racks e das peças, a FMM já começou a segunda etapa de instalação do sistema, que deverá chegar a 2000 racks, centenas de tipos de itens que circulam na fábrica e milhares de part numbers. Estudos estão em andamento para agregar inteligência artificial e reconhecimento visual ao projeto, novas tecnologias que integram o conceito avançado da Indústria 4.0.

 

Wagner Oliveira, South America Regional CIO da FMM, explica que o foco principal do projeto na FMM foi o de aprimorar as informações sobre o inventário de todas as peças do estoque de segurança a fim de garantir a confiabilidade nos dados e aumentar o controle sobre os racks, importantes ativos da planta. “O pessoal de chão-de-fábrica já está identificando outras oportunidades de utilização da tecnologia e sugerindo automação de novos processos”, destaca.

 

“Existem outras necessidades da planta para automatização de processos via IOT. Neste momento, estamos em processo de implementação em 100% dos itens do safety stock e, em paralelo, estamos estudando a extensão deste projeto para controlar as empilhadeiras e derivados na fábrica, com a finalidade de otimizar e adaptar o fluxo de movimentação. Afirmo que é possível fazer uma melhor gestão da fábrica com o auxílio da tecnologia”, relata Watila Castro, Plant Manager FMM.

 

“O projeto tem sido um sucesso e estamos avaliando também a utilização de outros modelos TaggenBeacons, como os beacons com sensores de temperatura e luminosidade, e os beacons-crachás, que são utilizados para análise da movimentação e performance dos colaboradores”, esclarece Sergio Passaretti, gerente comercial da Taggen. O TaggenBeacon é fabricado no Brasil e apresenta tecnologia 100% nacional. O modelo selecionado vem equipado com bateria de longa duração, cuja vida útil varia de acordo com a configuração de broadcast da rede.

 

Werter Padilha, CEO da Taggen e da Sawluz, integrante da nova Câmara da Indústria 4.0 do MCTIC e do Ministério da Economia e participante do conselho que atuou no desenvolvimento do Plano Nacional de IoT, destaca que “a internet das coisas reúne diferentes tecnologias e aplicações, sendo estratégica nos negócios da economia digital, em busca de mais produtividade, redução de perdas e ganhos de eficiência, entre outros benefícios. O projeto da FMM apresenta resultados fantásticos e com ROI (retorno sobre o investimento) comprovado pelo próprio cliente e acima das expectativas. Iniciativas como esta são fundamentais para mostrar o retorno de IoT na prática”.

 

Transformação digital na indústria automotiva

 

A implantação deste sistema de IoT para a Indústria 4.0 está sintonizada com as metas gerais do Grupo Faurecia, que tem um projeto global de Transformação Digital para todas as fábricas, P&D e escritórios da empresa pelo mundo, buscando a transformação digital não só no ambiente de chão de fábrica, mas em toda a empresa, incluindo as áreas administrativas e de produtos.

 

No Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto CESAR, divulgada em agosto de 2019, aponta que cerca de dois terços das empresas do setor automotivo (65,70%) acreditam que estão longe ou, pior, muito longe da Transformação Digital. Apenas 37,36% das empresas estão fazendo alguma coisa para lidar com essa situação. A maioria ainda não iniciou as ações ou ainda está se preparando – uma parte das empresas, inclusive, acredita ou que Transformação Digital não seja uma prioridade ou que ela não impactará o seu negócio. A pesquisa do CESAR, centro de inovação, educação e empreendedorismo foi realizada em parceria com a Revista Automotive Business entre os meses de abril e junho de 2019 e abrangeu 138 empresas do setor automotivo de todo o país. (Segs/Chris Santos)