O Estado de S. Paulo
Segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, quase metade da população brasileira julga ter uma boa relação com a tecnologia, impressão esta passada pela contínua relação que têm com os smartphones e crescimento da disponibilidade de aplicativos dos mais diferentes tipos.
Fico muito feliz em verificar a facilidade com que a inovação tecnológica tem fincado seus pés no segmento de mobilidade urbana. Os aplicativos de navegação e de transporte possuem mais reconhecimento do que apps de entretenimento, compras online e bancos.
O dado por si só não chega a espantar, afinal o setor de transporte de passageiros é uma das referências atualmente de boa parte de nossa população ao abordar a questão da Transformação Digital. Tanto isso é verdade que uma das palavras da moda é abordar a questão da economia dos aplicativos usando o termo “uberização”.
Mas, hoje, já é possível dizer que a inovação tecnológica no segmento de transportes tem se tornado cada vez mais abrangente. O transporte individual é apenas uma faceta deste amplo leque de opções.
Um cartão, muitas funções
No âmbito tecnológico, ser eficiente e polivalente é um elemento-chave. Sendo assim, uma das apostas globais de fornecedores de cartões convergentes, tem sido consolidar múltiplas funções em um único cartão. A ideia aqui é evoluir o nosso popular “bilhete único”, ao menos da forma como ele existe hoje, agregando segurança e conveniência para o usuário. Na América Latina, a Colômbia, por meio de um dos seus principais bancos, somando mais de 14 milhões e clientes, foi pioneira ao lançar um cartão que agrega as funções de débito, crédito e de “bilhete para transporte”. O Brasil passou a contar, neste ano, com dois pilotos neste mesmo sentido: MetrôRio, viabilizado pela Visa, e parte da frota dos ônibus de São Paulo, em iniciativa da Mastercard. Desta forma, passaram a oferecer a possibilidade de pagar tarifas por aproximação (NFC). Na prática, simplifica-se a vida do usuário, pois ele deixa de fazer as recargas no bilhete de transporte, e passa a usar o cartão bancário podendo acumular pontos nos programas de fidelidade. O reflexo dessa estratégia é fidelizar seu cliente e gerar novas fontes de receita.
Meu smartphone, meu tíquete
Não quer ter que carregar um cartão para acessar transporte público? Tudo certo, esse recurso também está chamando a atenção das empresas mundo afora. A ITSO Transit Hub, por exemplo, lançou um tíquete móvel e inteligente em Londres, no Reino Unido, capaz de ser adquirido em movimento via mobile, com tecnologia Google Pay, possibilitando a transferência intermodal e podendo acompanhar viagens em tempo real – tanto do transporte em que você está, como do próximo que você precisará acessar. Parece uma mudança simples e de baixo impacto, certo? Não é! Segundo uma pesquisa no mesmo Reino Unido citado, desenvolvida pela Visa, 49% das pessoas que utilizam meios de transporte público consideram a introdução de pagamentos sem contato – nos mesmos moldes do oferecido pela ITSO Transit Hub – como a melhoria mais significativa na sua experiência de uso, gerando redução de tempo dispendido, maior controle de gastos e desobrigando-os a carregar dinheiro em espécie. Mais do que isso, após cerca de sete anos do lançamento, esse recurso já é utilizado por 7 em cada dez usuários. Não é nem um pouco irrealista considerar que o cenário brasileiro, após a adoção de tecnologia similar, seguiria um caminho próximo do britânico.
Nova experiência de mobilidade
Parte importante do sucesso da “uberização” foi gerar uma experiência nova e personalizada de transporte. O próximo passo na mobilidade urbana, que já está disponível em algumas cidades do Brasil e do mundo, é o carro compartilhado (car sharing), acessado por meio de biometria. A sua nova chave de acesso ao automóvel é o seu próprio corpo – sua digital, sua íris ou seu rosto. O conceito de carro compartilhado vem ganhando cada vez mais adeptos no mundo todo. Além das várias vantagens ambientais, um dos seus principais pontos positivos é a economia de custos, conveniência e simplicidade. É sair do conceito de “ter” para o de “usar”. E hoje, a indústria automotiva prevê que o número de carros conectados deverá crescer 35% até 2021.
A relação entre essas tecnologias pode parecer distante, já que algumas impactam mais o transporte público, enquanto outras o privado. Mas há pontos coincidentes que vão liderar os esforços em Transformação Digital para o setor automotivo e de mobilidade:
Conveniência, simplicidade e segurança são pilares fundamentais
A experiência do cliente deve ser real time. Esperar não é mais uma opção;
Facilidade é aspecto-chave para se tornar uma tendência. Um app complicado de usar, ou uma biometria que não funcione bem não terá adoção esperada;
Conveniência é uma característica cada vez mais valorizada pelo consumidor e deve ser incentivada, como transformar dois ou 3 cartões com diferentes funções em um só;
Em mobilidade urbana é fundamental garantir alta segurança.
E você, pegará carona nessa oportunidade ou vai dormir no ponto? (O Estado de S. Paulo/João Fábio de Valentin, diretor de negócios de Financial Institutions para Brasil da Idemia)