O Estado de S. Paulo
O Estado de São Paulo registrou uma média de 393 acidentes de trânsito não fatais por dia entre janeiro e agosto deste ano. Isso significa 94,3 mil casos em vias municipais e rodovias, conforme dados do Infosiga SP divulgados ontem. Em média, a cada 27 ocorrências com feridos, é registrada uma com morte.
A partir deste mês, o Estado divulgará também dados de acidentes não fatais. Em agosto, 478 pessoas morreram no trânsito paulista, um aumento de 2,8% em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento se estende especialmente entre motociclistas (170, ante 137 de agosto passado) e pedestres (128, ante 121 do mesmo período de 2018). Do total das ocorrências não fatais, 79% foram em vias municipais (21% em rodovias), das quais 38% foram de noite ou na madrugada.
Na cidade de São Paulo, foram registrados 20.392 acidentes não fatais de janeiro a agosto, o que significa uma média de 36 para cada morte. Segundo o levantamento, 35% das ocorrências foram no fim de semana e 59% durante o dia e a tarde. Ainda sobre a capital, 64% dos acidentes envolveram automóveis, seguidos de motocicletas (54%). O horário de pico de acidentes é na faixa das 18 horas, enquanto o menor número é às 3 horas. Os dados reúnem boletins de ocorrência das Polícias Civil, Militar, Rodoviária Estadual e Federal, além dos bombeiros. A coordenadora do Programa Respeito à Vida, Silvia Lisboa, diz que há previsão para aperfeiçoar a qualidade das informações disponíveis – indicando, por exemplo, a gravidade das lesões – e cruzá-las com dados de outras fontes, como dos equipamentos de Saúde e do Instituto Médico-Legal.
Secretário de governo e vice-governador, Rodrigo Garcia diz que a ampliação do banco de dados faz parte de um “processo importante de prevenção”. Segundo ele, as informações estão sendo utilizadas para mapear os pontos que precisam de medidas para redução de acidentes. Dentre as previstas estão melhorias na sinalização e iluminação, instalação de lombo faixas e mudanças no sistema semafórico, tudo em conjunto com prefeituras.
No caso das rodovias, o secretário diz que 60 pontos que precisam de intervenção estão mapeados. Ele comenta, ainda, que o objetivo do Estado é diminuir o número de acidentes, porém, como a base de dados é nova, não será definida uma meta.
A professora de Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC (UFABC), Silvana Zioni, aponta que o Estado deveria considerar também a velocidade máxima dos pontos em que há maior número de acidentes. “É um fator de risco.” Outra questão é detalhar dados sobre atendimento às vítimas desses acidentes, como o tempo até a chegada da equipe de resgate, o que ajudaria, segundo a especialista, “a orientar políticas públicas”.
Descaso
Em janeiro, o auxiliar técnico audiovisual Jefferson Ferreira Gomes, de 31 anos, foi vítima de um acidente de trânsito que o deixou paraplégico. “Estava de moto, fui fazer uma ultrapassagem e uma senhora fez uma conversão proibida.
Batemos praticamente de frente e eu caí no canteiro central. Fraturei a coluna e rompeu a medula. Também quebrei duas costelas e a clavícula”.
Com 11 anos de habilitação, ele nunca tinha sofrido um acidente grave de trânsito. No primeiro mês após o acidente, fez fisioterapia em casa. Há um mês, começou um trabalho multidisciplinar de reabilitação. “Eu trabalhava com projeção. Como vou subir para colocar um projetor? Tudo é difícil. Inclinação na rua, altura das calçadas, ônibus.”
Gomes, que é pai de uma menina de 3 anos e meio e de um menino de 3 semanas, diz que as pessoas precisam ser mais conscientes. “Tem muito descaso, falta pensar no outro”. (O Estado de S. Paulo/Priscila Mengue, Paula Felix e Felipe Resk)