Sindicato teme fechamento ou terceirização de campo de provas da Ford em Tatuí (SP)

UOL Carros

 

Inaugurado em 1978, o Campo de Provas da Ford em Tatuí, no interior paulista, está promovendo demissões com o objetivo de terceirizar suas atividades e se tornar um prestador de serviços para outras montadoras e empresas do setor automotivo. Ou, então, encerrar de vez suas atividades como unidade da Ford.

 

A entidade sindical reivindica o pagamento de benefícios aos trabalhadores já desligados, nos moldes do PDV (plano de demissão voluntária) que a montadora tem praticado com trabalhadores das fábricas de São Bernardo do Campo (SP), cujas negociações para venda à Caoa estão adiantadas, de Camaçari (BA) e Taubaté (SP).

 

De acordo com Ronaldo José da Mota, presidente do sindicato, “tudo indica que a Ford está fatiando as demissões primeiro, para depois transformar o Campo de Provas em uma prestadora de serviços, rebatizada com o nome Global Automotive”. “A intenção é mesmo fechar, mas não querem declarar agora porque ainda estão realizando testes para lançamento do SUV Ford Territory no Brasil”.

 

O sindicalista acrescenta que, segundo informação não oficial, a Ford teria perdido um contrato com a Toyota pelo fato de o campo de testes de Tatuí ainda ser uma instalação da marca oval azul.

 

“Estão tirando os logotipos”

 

“Inclusive, dentro da unidade já estão tirando todos os logotipos da empresa. Estão falando em reestruturação, primeiramente com os mensalistas, depois com os horistas e por fim com o pessoal da área administrativa. Se a Ford realmente fizer isso, não vai ter número suficiente de funcionários para tocar as atividades. Hoje o número de terceirizados já é maior que o de trabalhadores contratados”, salienta Mota.

 

Em consulta ao LinkedIn, a Global Automotive aparece como empresa especializada em testes de durabilidade e avaliação veicular com sede em São Paulo e escritório em Salvador, na Bahia – bem perto da fábrica de Camaçari. UOL Carros conversou com Jorge Abdalla, diretor executivo da Global e ex-funcionário da Ford, onde trabalhou por cerca de 40 anos, até 2015. Ele ocupou cargos como engenheiro-chefe e líder de desenvolvimento de produto da Ford e também da Troller.

 

Abdalla diz que a empresa é dos filhos e atualmente atua apenas como uma das prestadoras de serviço do campo de provas. Questionado se a Global Automotive está para assumir as operações em Tatuí, Abdalla afirma que não tem conhecimento do assunto.

 

“Não posso dizer nem que sim, nem que não. Seria uma boa surpresa. A única coisa certa é que a gente presta serviços à Ford. Não tenho como confirmar mais que isso, não sou mais funcionário da Ford nem tenho informações privilegiadas”, destaca.

 

“Entendo que a Ford tem interesse em novos modelos de negócio, considerando a situação financeira difícil pela qual está passando”, avalia o executivo.

 

O executivo acrescenta que a Global hoje tem algo entre “seis a 12 funcionários” trabalhando em Tatuí com funções como motorista de testes e técnicos na área de engenharia. Nenhum deles estaria na leva de colaboradores desligados. “Participamos de cotações como outras empresas. Recentemente ganhamos um pequeno espaço dentro do campo de provas, com duas cadeiras, como outros fornecedores de serviço”.

 

Porém, o sindicalista Mota rebate: “A Global tem hoje entre 40 e 45 pessoas terceirizadas trabalhando no campo de provas”.

 

Ford fala em “transformação do modelo de negócios”

 

Consultada, a Ford “confirma que fará uma readequação em seu quadro de funcionários do Campo de Provas de Tatuí como parte do amplo processo de reestruturação organizacional feito pela montadora nos últimos meses”.

 

Mensagem por escrito da Diretoria de Desenvolvimento de Produto da fabricante à qual UOL Carros teve acesso, enviada na quarta-feira aos funcionários grevistas, admite o desligamento de 12 empregados mensalistas. O texto cita a iniciativa como “parte da necessária transformação do modelo de negócios e reestruturação organizacional, iniciada nos últimos meses”. Também menciona ” resultados financeiro negativos” da companhia na América do Sul desde 2013.

 

Na mensagem, a fabricante diz, ainda, que “respeita o direito de manifestação, mas também seguirá o princípio previsto em lei de que os dias não trabalhados serão descontados em folha de pagamento”.

 

Caso a área de testes em Tatuí seja realmente fechada ou repassada a um terceiro, a única unidade remanescente da Ford em São Paulo será a de Taubaté (SP), que hoje produz motores e transmissões e também passou recentemente por um plano de demissões voluntárias. (UOL Carros/Alessandro Reis)