O Estado de S. Paulo
Contrariando o otimismo gerado pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, a indústria brasileira adentrou a segunda metade do ano com o pé esquerdo. A produção recuou 0,3% em relação a junho, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados ontem pelo IBGE.
Já são três meses de resultados negativos consecutivos, período em que o setor industrial acumulou uma retração de 1,2%. Com as perdas recentes, a indústria brasileira voltou a operar no mesmo patamar de uma década atrás, em nível semelhante ao de janeiro de 2009, época da crise econômica internacional.
“O setor industrial teve uma perda importante naquele período. O que a gente produz hoje é suficiente para atender à demanda existente dez anos atrás”, resumiu André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
O resultado surpreendeu analistas do mercado financeiro, que esperavam um crescimento de 0,45% em julho ante junho, segundo a previsão mediana do Projeções Broadcast.
Outra má notícia da pesquisa em julho foi a redução de 0,3% na produção de bens de capital, após já ter encolhido 0,4% no mês anterior. Para a economista Laura Karpuska, da gestora de recursos BlueLine Asset Management, o resultado põe em dúvida a continuidade do crescimento do investimento, que também foi destaque no PIB do segundo trimestre. “Bens de capital foi o setor que mais sofreu durante a crise. Chegou a cair mais de 50% entre 2015 e 2016, mas desde o fim do ano passado estava em recuperação.”
“Fundo do poço”
Após a surpreendente queda da produção industrial em julho, a equipe econômica já avalia que agosto deverá ser o “fundo do poço” para a economia que só deve voltar a crescer a partir de setembro. “Os resultados de julho e agosto da atividade econômica inspiram cuidado. Alguns resultados são bons e outros não são tão bons. Agosto é o fim de um período complicado na economia, agosto é o fundo do poço”, admitiu o secretário especial de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida.
Nem a demanda doméstica nem o setor externo estão favorecendo o desempenho da produção industrial no País. Para o IBGE, a terceira queda seguida sugere que o setor industrial está longe de exibir alguma tendência de recuperação. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Karla Spotorno, Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues)