Brasil sente efeitos da crise argentina

O Estado de S. Paulo

 

Reflexos da crise argentina e das tensões comerciais entre EUA e China fizeram o dólar subir 0,97% nesta segunda-feira, 2, e fechar a R$ 4,18. Na área comercial, também ficou evidente o impacto da crise do país vizinho. O Ministério da Economia divulgou que as exportações para a Argentina caíram 39,7% neste ano até agosto. Segundo economistas, a tendência é que não haja uma reversão nesse número nos próximos meses, dado o agravamento da situação do país na última semana.

 

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, destaca que este será o primeiro ano, desde 2003, em que o Brasil terá um déficit na relação comercial com a Argentina, já que os argentinos estão reduzindo drasticamente suas compras. A preocupação maior, porém, é com o risco de não pagamento por parte dos importadores argentinos, diz Castro. Isso porque, nos últimos dias, o presidente Mauricio Macri tem avançado com medidas de controle de câmbio e de capital.

 

Na última sexta-feira, o governo Macri anunciou que bancos não poderão mais distribuir lucros sem autorização do Banco Central.

 

No domingo, foi proibida a compra de mais de US$ 10 mil por pessoas físicas. Por enquanto, pessoas jurídicas podem adquirir dólares para importação, mas não para pagamento de dívidas fora do vencimento ou de dividendos.

 

Em Buenos Aires, o pacote de medidas do governo teve resultado positivo. O dólar caiu 2,5% nesta segunda-feira e o Merval (principal índice da Bolsa) subiu 6,45%. A grande prova para o mercado argentino, no entanto, será hoje, pois ontem o americano estava fechado pelo feriado do Dia do Trabalho.

 

Contágio

 

O economista Robson Gonçalves, professor da FGV, acredita que o contágio financeiro da crise argentina deve ser superado rapidamente, pois o Brasil tem condições macroeconômicas mais sólidas. Ele afirma, porém, que o setor automotivo, grande exportador para a Argentina, deve sofrer mais, principalmente o segmento de veículos pesados. “Será um efeito localizado. Se o Brasil tivesse aquecido, seria natural que o consumo interno substituísse a demanda argentina. A questão é que o Brasil não vai bem. Nesse caso, qualquer ajuda é bem vinda”, diz.

 

Para Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV, a cadeia de produção automotiva deverá se desorganizar com esse novo capítulo da crise argentina. Hoje, as fábricas do setor atuam de modo complementar, com uma marca produzindo veículos diferentes em cada um dos países. “Quando cai muito o consumo de um dos lados da fronteira, há mudança nos custos de produção do outro lado também”, diz.

 

Apesar de ver a atual situação do país diferente da de 2001, quando a moratória foi declarada, Ribeiro afirma que o país “caminha em direção a uma nova moratória”. (O Estado de S. Paulo/Luciana Dyniewicz)