Após sete meses, Caoa fecha compra da fábrica da Ford no ABC Paulista

O Estado de S. Paulo

 

O grupo brasileiro Caoa comprou a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O anúncio do negócio, antecipado em abril pelo ‘Estado’, será feito hoje, às 15h, durante evento no Palácio dos Bandeirantes, pelo governador do Estado, João Doria, e representantes das duas empresas. Não há detalhes sobre a transação, mas, segundo fontes, o investimento total da Caoa na transação é de cerca de R$ 1 bilhão.

 

Em fevereiro, a Ford anunciou que encerraria ao longo de 2019 a operação da planta do ABC. A fábrica é a única da montadora que produz caminhões. O único automóvel produzido lá é o Fiesta. A decisão reflete decisão global da empresa de sair do mercado de caminhões e de parar de produzir o Fiesta. A montadora permanecerá no Brasil com a fábrica de Camaçari, na Bahia, que produz o Ka e o EcoSport, e uma fábrica de motores em Taubaté, no interior de São Paulo.

 

Após o anúncio, o governador João Doria decidiu ajudar a Ford a encontrar um comprador. Algumas empresas manifestaram interesse, mas a Caoa foi a que conseguiu avançar nas negociações. No último dia 7 de agosto, o presidente da Ford para a América do Sul, Lyle Watters, disse a jornalistas que as negociações teriam um desfecho “em algumas semanas”.

 

Ontem, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC publicou uma foto em seu site de uma reunião realizada pela manhã, na sede da Caoa, em São Paulo. O texto que acompanha a imagem dizia: “Os metalúrgicos do ABC discutiram com a direção da empresa condições trabalhistas para a contratação de trabalhadores impactados pelo fechamento da unidade da Ford, caso a aquisição da planta de São Bernardo seja efetivada. As negociações estão avançadas”.

 

Em sua conta no Facebook, o ex-presidente do Sindicato, Rafael Marques, publicou a mesma foto. O texto, contudo, dizia que a reunião serviu para “acertar as questões trabalhistas para as futuras contratações advindas do anúncio (que está próximo) da aquisição da planta da Ford em São Bernardo do Campo (pelo Grupo Caoa)”.

 

Executivos do Grupo Caoa não quiseram comentar o assunto ontem. Um porta-voz afirmou apenas que “as negociações estão em curso, mas nada foi decidido ainda”. Fontes ligadas ao negócio, contudo, confirmaram que o acordo foi selado.

 

Carro chinês

 

Após a conclusão do negócio, segundo apurou o Estado, a Caoa deve usar as instalações do ABC Paulista para montar automóveis de uma marca chinesa. O grupo brasileiro produz modelos da Chery no Brasil em duas unidades. De Jacareí (SP) saem o sedã Arrizo 5 e SUV compacto Tiggo 2. Em Anápolis (GO) são feitos os SUVs médios Tiggo 5X e Tiggo 7.

 

O grupo brasileiro fábrica, também em Anápolis, os SUVs médios ix35 e New Tucson, da Hyundai. A Caoa também é responsável pela importação de todos os modelos da marca sul-coreana. Além disso, representa a Subaru no País.

 

O presidente do grupo Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, chegou a condicionar a compra da planta da Ford à aprovação da reforma da Previdência. À época, ele disse que havia “grande possibilidade” de absorver os funcionários, mas que o investimento depende da negociação com sócios chineses, sindicato e fornecedores. “Só queremos que o governo resolva a Previdência e a crise fiscal para voltarmos a investir”.

 

Unidade era da antiga Willys

 

A Ford iniciou as atividades na fábrica de São Bernardo do Campo ao adquirir, em 1967, a Willys Overland, que havia sido originalmente fundada 15 anos antes. Entre os fatos históricos da unidade Anchieta esteve a “greve dos golas vermelhas”, que durou 51 dias, em 1990. Oito anos mais tarde, a empresa enviou cartas de demissão a 2,8 mil trabalhadores dias antes do Natal. Isso deflagrou outra greve de 50 dias – que culminou em um acordo e na realização de um PDV. A fábrica produziu veículos como Rural, Corcel, Maverick, Del Rey, Pampa, Escort, Ka e Fiesta. (O Estado de S. Paulo/Tião Oliveira e André Ítalo Rocha)