Indústria defende medida para exportar 1 milhão de veículos a mais

O Estado de S. Paulo

 

O Brasil tem uma oportunidade de ouro para fortalecer a indústria automotiva nacional e manter sua posição de destaque entre os países que produzem veículos. Ela consiste em aproveitar a capacidade instalada do País para estimular a produção voltada à exportação. Mas, se não agir com rapidez, há o risco de perder o passo na corrida para continuar atraindo investimentos num momento em que o setor vive grandes transformações tecnológicas, com os adventos dos carros elétricos e autônomos.

 

Essa foi a conclusão do debate promovido pela TV Estadão no último dia 6 com o executivo Marcos Munhoz, vice-presidente da GM América do Sul, e Mark Essle, sócio da consultoria A.T. Kearney, especializada no setor automotivo. “O Brasil tem uma base instalada com capacidade para produzir 4,5 milhões de veículos. Nos últimos anos, o mercado doméstico absorveu entre 2,2 e 2,7 milhões”, lembrou Essle. “O setor está com uma taxa de utilização baixa, e toda a cadeia produtiva está com números de rentabilidade do negócio ruins. Existe uma grande oportunidade para exportar.”

 

Segundo Munhoz, os veículos brasileiros apresentam hoje a mesma qualidade dos concorrentes de mesmo segmento fabricados no mundo todo. Mas contam com uma desvantagem nas exportações: eles carregam 15% de impostos, contra apenas 2% na China e na Coreia do Sul e 0,3% no México, nações que se notabilizam pelo foco no mercado externo (veja quadro).

 

O problema está relacionado às distorções do sistema tributário brasileiro, que vai acumulando resíduos de impostos pagos ao longo da cadeia produtiva que não são alcançados pelas isenções aplicadas às exportações. Essa desvantagem é maior em cadeias longas, como a automotiva, que utiliza componentes com até oito níveis anteriores de fornecedores.

 

Uma solução definitiva depende da reforma tributária, mas é possível corrigir rapidamente essa distorção por meio do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras, o Reintegra. O programa foi criado com essa finalidade em 2011, mas atualmente devolve apenas 0,1% dos 15% de resíduos tributários aos exportadores. A GM defende a elevação dessa alíquota para 10%.

 

Um estudo da A.T. Kearney, considerando vendas apenas para América Latina e África, estimou que a mudança no Reintegra poderia aumentar em 1 milhão o número de veículos exportados, com geração de 120 mil empregos na cadeia automotiva. “E são empregos bons, bem remunerados”, ressaltou Essle.

 

A despeito dos resultados ruins nos últimos anos, muitas montadoras mantêm planos de investimento importantes no Brasil. A matriz da GM, por exemplo, anunciou em março aporte de R$ 10 bilhões nos próximos quatro anos. Mas o vice-presidente da GM América do Sul faz um alerta: “Se esses investimentos agora se mostrarem fracassados porque não se consegue exportar, porque não se consegue ser rentável, no próximo ciclo de investimentos nós vamos ficar sozinhos”. Ele defende que o Brasil tenha uma postura mais agressiva na busca de mercados globais. “Temos que partir para o ataque”. (O Estado de S. Paulo)