Frota própria é má notícia para caminhoneiros

O Estado de S. Paulo

 

A manutenção do diálogo entre governo e caminhoneiros independentes em nada altera o agravamento da situação econômica dessa categoria de profissionais. Para estes, o pior resultado da paralisação do primeiro semestre do ano passado, ainda no governo Michel Temer, foi a decisão das empresas de constituir ou ampliar as frotas próprias de veículos, espelhada em reportagem recente do Estado. Com as frotas, reduz-se um mercado ocupado por caminhoneiros autônomos.

 

Os dados divulgados evidenciam bem o que se passa nesse segmento do transporte. Em maio de 2019, foram comercializados 9.197 caminhões novos, 61% mais do que em maio de 2018. Nos primeiros cinco meses do ano, foram vendidas quase 39,1 mil unidades, 46,8% mais do que as 26,6 mil comercializadas em igual período do ano passado.

 

O aumento das vendas de caminhões novos se explica pelo risco de que novas paralisações pudessem provocar, no futuro, prejuízos para as empresas que dependem do transporte rodoviário. Estas também querem evitar o custo dos serviços prestados por caminhoneiros, fixado por uma tabela de preço de fretes instituída por lei em agosto de 2018.

 

Como a atividade depende do mercado, que por sua vez depende do ritmo da atividade econômica, a lei do frete tornou-se um obstáculo justamente para aqueles a quem se pretendia beneficiar, ou seja, os caminhoneiros autônomos.

 

Companhias como a JBS, a Amaggi e a produtora de alimentos Predilecta investiram em frotas próprias. As processadoras Cargill e Bunge só esperam uma definição do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da tabela de fretes para decidir se investem ou não em frota própria.

 

O investimento em frotas próprias é “natural” e “generalizado”, diz o presidente da Associação Nacional dos Usuários de Transportes de Carga (Anut), Luiz Henrique Baldez. Esse investimento só não ocorre quando há outras alternativas, como o transporte fluvial ou ferroviário.

 

As paralisações de caminhoneiros em 2018 foram atos de protesto contra o valor dos fretes considerado insatisfatório pelos prestadores de serviços. Mas isso se deveu à superoferta que veio das facilidades propiciadas nos governos do PT para a compra de caminhões. O quadro de oferta maior que a demanda tende a se agravar com as frotas próprias. (O Estado de S. Paulo)