Importação de carros avança mesmo com dólar caro

Correio Braziliense

 

O dólar caro, a lenta retomada e os imensos desafios enfrentados pela indústria automobilística não foram impedimentos para o desempenho de vendas de carros importados no país.

 

As 16 marcas filiadas à Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) licenciaram 3.094 unidades em maio, o que representa uma alta de 4,9% em relação a abril, quando foram vendidas 2.950 unidades importadas. Na comparação com maio de 2018, quando foram comercializadas 3.238 unidades, a queda foi de 4,4%.

 

A alta de 4,9% no comparativo mensal, porém, não foi suficiente para melhorar o desempenho das associadas à Abeifa no acumulado dos primeiros cinco meses de 2019. De janeiro a maio, dados consolidados mostram a comercialização de 13.538 unidades importadas, contra 14.935 unidades em igual período de 2018, o que significa queda de 9,4%.

 

Na avaliação de José Luiz Gandini, presidente da Abeifa, a persistência da moeda americana acima dos R$ 4 e a falta de confiança do consumidor na economia brasileira ainda impactam o setor, que precisa do aumento do otimismo para vender mais. “Estamos na torcida para que a economia retome um ritmo mais acelerado de crescimento”, afirma o executivo.

 

Mesmo assim, a recuperação em maio sinaliza tempos melhores. “Já é um alento, mas poderíamos ter tido resultados mais promissores”, diz Gandini. “Com pouco mais de 13 mil unidades importadas em cinco meses, se anualizarmos esses números, estamos chegando a 32 mil unidades em 2019, quando nossa previsão inicial era chegar a 50 mil veículos importados”.

 

As cinco marcas que mais venderam, em maio, foram a Kia Motors (888 unidades, ou alta de 4,3%), Volvo (702 veículos, aumento de 23,6%), BMW (530 carros, avanço de 0,2%), Land Rover (199 automóveis, queda de 3,9%) e Jac Motors (189, acréscimo de 34%).

 

Somados os emplacamentos de unidades importadas e produzidas localmente, o ranking das cinco marcas, por volumes, indica a CAOA Chery com 1.750 unidades (1.749 nacionais e 1 unidade importada), BMW, com 1.098 unidades (568 nacionais e 530 importadas), Kia Motors (888 veículos, todos importados), Volvo (702 unidades importadas) e Land Rover (390 veículos, dos quais 191 nacionais e 199 importados).

 

Em termos de participação de mercado, ao considerar somente os veículos importados por associadas à entidade, o setor ficou com 1,32% de “share”. Com 5.749 unidades licenciadas (importados e produção nacional), a participação das associadas à Abeifa foi de 2,45% do mercado total de autos e comerciais leves.

 

Nova geração

 

Além dos desafios momentâneos, que dizem respeito ao crescimento da economia e à melhoria do ambiente de negócios do país, a indústria automobilística está em xeque – e não apenas no Brasil. No ano passado, pela primeira vez em décadas, as vendas de carro encolheram. A nova geração cada vez mais considera o carro um serviço e não um bem privado. Isso, obviamente, terá grandes implicações no setor.

 

O avanço dos carros elétricos e autônomos é outra realidade que deverá levar a profundas mudanças. Grandes montadoras poderão ser substituídas por novas fabricantes, a maioria delas oriundas da área de alta tecnologia – Google, Tesla e Apple, por exemplo, têm projetos avançados de automóveis autônomos.

 

Segundo uma projeção recente feita pela consultoria KPMG, o número de montadoras deverá diminuir de maneira acentuada até 2030. Portanto, daqui a pouco mais de 10 anos. Quem não estiver preparado para enfrentar os novos tempos ficará pelo caminho. Para especialistas, o desempenho dos importados tende a melhorar nesse cenário, já que as grandes transformações serão produzidas primeiro no exterior. Enquanto isso, as marcas vão continuar dependendo visceralmente da retomada da economia brasileira. (Correio Braziliense/Nelson Cilo)