A indústria se moveu

O Estado de S. Paulo

 

Os sinais vitais da indústria melhoraram um pouco em abril, com volume de produção 0,3% maior que o do mês anterior. Foi um respiro animador, depois de um primeiro trimestre desastroso. Houve expansão em 20 dos 26 segmentos pesquisados e aumento em 2 das grandes categorias – bens de capital e bens de consumo. Mas a produção havia caído 1,4% em março. A reação, portanto, não foi suficiente para levar o setor de volta à condição anterior a essa queda. Além disso, o total produzido no mês ainda ficou 1,1% abaixo do contabilizado em dezembro, quando a atividade já era muito fraca. Um impulso mais forte dificilmente virá do consumo, exceto se o governo providenciar algum estímulo. Mas qualquer novo incentivo às compras só deverá vir depois de aprovada a reforma da Previdência, segundo tem dito o ministro da Economia, Paulo Guedes.

 

O dinheiro extra para o consumo deverá ser providenciado por meio de uma ação já conhecida, a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e, provavelmente, do PIS-Pasep. Até lá, o desemprego elevado e o risco de novas demissões continuarão freando as despesas familiares. Os últimos dados do IBGE apontaram 13,2 milhões de desocupados no trimestre móvel terminado em abril. Num cálculo mais amplo, o relatório apontou 28,4 milhões de subutilizados.

 

Graças a exportações, algumas indústrias conseguiram atravessar em segurança tempos difíceis, mas o número de empresas nessas condições é muito limitado. Além disso, o resultado das vendas externas do setor foi decepcionante no acumulado do ano. Como a divulgação da balança comercial antecede amplamente a publicação dos dados setoriais de produção, já se conhece o valor faturado até maio. Nesse mês, as exportações de industrializados, no valor de US$ 10,25 bilhões, foram 25,2% maiores que as de um ano antes. Mas o total exportado em cinco meses, de US$ 46,19 bilhões, foi 0,6% menor que o de janeiro a maio de 2018. No caso dos manufaturados (um dos itens do conjunto) houve recuo de 1,5%.

 

Nesse período, as exportações para a Argentina, um dos mais importantes mercados para produtos industriais brasileira, somaram US$ 4,27 bilhões e foram 42,1% inferiores às de igual período de 2018. A recessão argentina e a perda de vigor do mercado global limitam severamente uma das fontes de receita da indústria.

 

Emparedada entre um mercado interno muito retraído e um mercado externo cheio de problemas, a indústria exibe um desempenho pior que o da primeira fase depois da recessão. Em abril deste ano, a produção foi 3,9% menor que a de um ano antes. O resultado de quatro meses foi 2,7% inferior ao de janeiro a abril de 2018. Em 12 meses o volume produzido encolheu 1,1%. Nos 12 meses de 2017 o resultado superou por 2,5% o do ano anterior. Em 2018 o crescimento ficou em 1%, com o setor travado pelo bloqueio de rodovias e, depois, pela incerteza política.

 

Mesmo depois da eleição presidencial, a indústria pouco se moveu, apesar das manifestações de esperança dos empresários. Os primeiros três meses do novo governo foram marcados por muitas dúvidas quanto à reforma da Previdência, por frequentes confusões no Executivo e por falhas seguidas na mobilização e na articulação da base parlamentar.

 

Sem vigor para uma recuperação mais forte e até para manter a ascendente, a indústria ainda ficou, em abril, 17,3% abaixo do pico de produção alcançado em maio de 2011. De fato, o setor começou a enveredar pela crise já no ano seguinte, afundou dramaticamente na recessão de 2015-2016 e no ano passado perdeu o impulso da fase inicial da recuperação.

 

Sem estímulos ao consumo, algum impulso poderia provir de investimentos em infraestrutura, se o governo conseguisse mobilizar em pouco tempo recursos privados. Reativar o programa habitacional também ajudaria, mas a equipe econômica prefere adiar as ações de alívio aos desempregados. Quanto ao presidente, cuida de assuntos, como normas de trânsito, muito distantes do drama econômico. (O Estado de S. Paulo)