O Estado de S. Paulo
Além dos estudos usados pelo governo, quatro relatórios divulgados este ano indicam que a produtividade da economia brasileira e a competitividade do trabalhador estão bem abaixo em relação a países desenvolvidos e emergentes. Diante desse cenário, se o PIB crescer no mesmo ritmo de 2018 (1,1%), a produtividade deve permanecer estagnada ou até cair, prevê a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
“Quando o Brasil conseguiu crescimento mais elevado, em meados dos anos 2000, metade do crescimento foi decorrente do aumento da produtividade, com uso de capital e trabalho de maneira mais eficiente”, diz ela.
Estudo da consultoria McKinsey aponta que a produtividade do trabalhador brasileiro cresceu, em média, 1,3% de 1990 a 2018. A do chinês teve avanço de 8,8%, a do indiano de 5% e a do chileno de 3%. O trabalhador local produz menos de US$ 15 por hora trabalhada desde os anos 90. Os chineses começaram a década de 90 produzindo US$ 2 por hora e chegaram perto dos US$ 15 no ano passado.
Para Nicola Calicchio, sócio da McKinsey, uma das razões é que o Brasil é pouco exposto à competição global. O País faz parte de nove acordos que permitem acesso a 5% dos consumidores mundiais. O Chile, por exemplo, tem 27 acordos com acesso a 95% dos consumidores. “Como o Brasil tem pouca concorrência, as empresas continuam no mesmo patamar de inovação e competitividade.”
Para Silvia, um dos gargalos é o tributário, que é importante para o crescimento das empresas. “Nosso sistema tributário prejudica empresas formais eficientes e protege empresas improdutivas e o trabalho informal.” Segundo ela, o trabalhador formal é quatro vezes mais produtivo que o informal.
O Ibre mostra também que a produtividade do trabalho no País cresceu só 0,5% ao ano de 1982 a 2018. O pesquisador Bruno Ottoni afirma que “são necessárias frentes combinadas para qualificar melhor a mão de obra, investir em educação e em tecnologia e inovação”, diz Ottoni. Os programas do governo, em sua opinião, estão na direção correta, mas o sucesso depende de como serão implementados.
Em abril, o presidente Jair Bolsonaro assinou também a MP da Liberdade Econômica prometendo reduzir a burocracia para empresas e melhorar o ambiente de negócios. Em paralelo, propôs reter orçamento de instituições de ensino e do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia ser “contraditório estabelecer meta de aumento da produtividade e fazer cortes em formação e inovação, áreas que não deveriam estar sujeitas ao ajuste fiscal”.
Outra comparação, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) entre 18 países com economias similares, mostra o Brasil no penúltimo lugar na lista. São avaliados itens como custo de mão de obra, infraestrutura, educação e tributos. Renato Fonseca, da CNI, afirma que há problemas dentro das empresas, que muitas vezes não investem em inovação, gestão e mão de obra, mas principalmente fora delas. “Há deficiência logística, excesso de burocracia e sistema tributário ruim”. Para ele, a MP da Liberdade Econômica é importante, mas sozinha não resolve o problema.
Mais um exemplo é o estudo da PwC mostrando que produzir carros no México é 18 pontos porcentuais mais barato que no Brasil se analisados materiais e logística. Aplicando-se os impostos de cada país, a diferença de custo chega até 44%. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva e Douglas Gavras)