O Estado de S. Paulo
Executivos de diferentes setores avaliam que a desoneração total da folha de pagamentos, um dos itens da reforma tributária proposta pelo governo, vai ajudar a melhorar a competitividade da indústria nacional e gerar mais empregos, além de acabar com mais uma “jabuticaba” que existe apenas no Brasil.
“Em nenhum outro país existe esse tipo de tributação”, afirma João Carlos Marchesan, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Acabar com essa tributação é muito importante, pois ajuda a melhorar nossa competitividade, a reduzir parte do custo Brasil e acaba com mais essa jabuticaba”.
Marchesan calcula redução de 4% nos custos do setor, corte importante quando se fala em abertura da economia. A indústria de máquinas emprega 120 mil funcionários diretos e a medida vai ajudar a gerar mais vagas e a destravar investimentos.
“A medida deve alavancar negócios, gerar atividades e empregos”, diz Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). O setor emprega 285 mil trabalhadores diretos e está estagnado. “Temos forte viés exportador e a desoneração trará mais oportunidades para competirmos lá fora”, diz. Segundo ele, a medida pode reduzir os custos do setor em 7%.
Para o vice-presidente da Ford América do Sul, Rogelio Golfarb, a medida “é altamente positiva”, mas, como ocorre num momento de ajuste fiscal, há dúvidas se será uma desoneração real da folha ou se haverá realocação de tributos.
Golfarb diz que “o custo do trabalho no País é muito alto” e a medida, se confirmada, vai facilitar para o empresário o tema das contratações. “Muitas vezes a empresa retarda a decisão de investimento local porque o custo da mão de obra é alto.”
Segundo o Secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, a ideia é a desoneração total e permanente da folha de pagamentos. Será para os todos os setores, diferente da adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2011, que permitiu a substituição da alíquota de 20% sobre a folha de salários por desconto de 2,5% sobre o faturamento.
“A desoneração é um modelo já testado no passado e que deu bons resultados”, diz Klein, da Abicalçados. Marchesan, da Abimaq, acrescenta que, para promover a abertura é preciso corrigir as assimetrias brasileiras em relação aos demais países. Para isso é preciso também promover a reforma tributária, reduzir juros e melhorar a logística.
Reforma ampla
O gerente de políticas fiscal e tributária da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Carraro Telles, diz ver “com bons olhos” as propostas adiantadas ao Estado por Marcos Cintra na quarta-feira.
A ideia de começar a unificação pelos tributos federais foi bem avaliada, embora não diminua a importância de prosseguir com a reforma para incluir o ICMS (principal tributo estadual) e o ISS (municipal).
“Tecnicamente, se os tributos forem construídos de forma semelhante, não vemos problemas”, afirma Telles.
Ainda assim, ele reafirma que a posição da CNI é por uma reforma ampla. Isso porque o ICMS é considerado o “pior tributo” pelos empresários da indústria, como foi constatado em recente pesquisa de opinião feita pela entidade com industriais.
“Fazer a unificação no âmbito federal é muito positivo, mas não envolve o tributo mais importante”, afirma Telles. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva e Vinicius Neder)