O Estado de S. Paulo
Em negociações avançadas para comprar a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o Grupo Caoa pretende produzir no local, além dos caminhões leves da marca norteamericana, modelos pesados da linha Xcient, da coreana Hyundai, segundo fontes ligadas à negociação.
O mais cotado para ser o primeiro produto dessa nova fase é o cavalo mecânico P440. Ele disputaria mercado com modelos da Mercedes-Benz, Scania e Volvo, entre outras marcas.
Há tempos a Caoa estuda a viabilidade de produzir caminhões semipesados e pesados no Brasil. O grupo já fabrica os leves HR e HD80 em Anápolis (GO). Recentemente circularam na internet fotos de unidades do Xcient P440 e do leve Mighty no pátio no qual a Caoa movimenta veículos importados na cidade goiana.
A possibilidade da compra da fábrica da Ford, portanto, surgiu como uma solução sob medida para os planos da empresa. Ao concretizar o negócio, o grupo pode transformar a fábrica do ABC em uma plataforma de exportação da linha de caminhões da Hyundai.
Na região
Além de atender ao mercado brasileiro, a fábrica poderá fornecer caminhões para outros países da América do Sul. Os modelos Hyundai Xcient já são vendidos no Uruguai e no Paraguai, países com os quais o Brasil mantêm acordos de comércio livre de impostos.
Produzir veículos de marcas distintas em uma mesma fábrica não será novidade para a Caoa. Em Anápolis, o grupo já fabrica os SUVs ix35 e Tucson, da Hyundai, além do Tiggo 5x e Tiggo 7 da marca Caoa Chery, criada após a empresa brasileira adquirir o controle da operação local da companhia chinesa.
O negócio incluiu também o comando da fábrica erguida pela Chery em Jacareí (SP). Lá, a Caoa Chery fabrica o subcompacto QQ, o sedã Arrizo 5 e o SUV compacto Tiggo 2.
Além disso, a Caoa é importadora dos automóveis feitos na Coreia do Sul pela Hyundai, como o sedã Elantra e o SUV Santa Fé. Também detém a importação dos japoneses da Subaru.
A linha de caminhões Xcient foi lançada na Coreia do Sul em 2013. Inicialmente, o objetivo da Hyundai era atender países europeus, além do mercado doméstico. Mas o plano foi expandido e a marca já está presente em países do Mercosul.
Se forem mesmo oferecidos no Brasil, os caminhões da marca sul-coreana enfrentarão rivais consolidados. Entre os principais estão a linha Atego, da Mercedes-Benz, no caso dos semipesados, e FH, da Volvo, entre os pesados.
A investida mira oportunidades de negócios no Brasil e no exterior. O grupo liderado pelo empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade deve assumir o controle da fábrica de São Bernardo em dezembro. Em julho de 2020 entrará em vigor o acordo de livre comércio de caminhões e ônibus entre Brasil e México.
Diferentemente dos automóveis, em que o México leva vantagem, nos caminhões é o Brasil que se sobressai. Volvo e Mercedes-Benz, por exemplo, fabricam no País produtos com o mesmo nível de tecnologia e sofisticação das matrizes na Europa. (O Estado de S. Paulo/Tião Oliveira)