O Estado de S. Paulo
A decisão repentina da Ford de fechar a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, deixou várias de suas fornecedoras com altos estoques de peças encomendadas dias antes do comunicado, feito em 19 de fevereiro.
Com R$ 2 milhões em peças encalhadas, a Fastplas, de Diadema (SP), aguarda sinal da montadora para entregar a encomenda ou ser indenizada. Um grupo de 60 funcionários, de um total de 480, está em férias coletivas desde que os trabalhadores da Ford decidiram não ligar mais as máquinas, em protesto contra o fechamento.
“Dez dias antes de anunciar o fechamento, a Ford confirmou pedidos”, diz Peter Otto Köcher, presidente da Fastplas. A empresa fornece peças plásticas para interior, exterior e compartimento do motor para a Ford desde 2002 e tem 15% da produção destinada à montadora.
Köcher afirma que, na semana passada, se reuniu com a montadora para buscar entendimento, mas as negociações devem se estender por 30 dias. Diferentemente da Fastplas, a Parker Hannifin, fabricante de mangueiras de alta pressão, válvulas e conectores em Diadema, ainda não conseguiu contato para negociar o estoque destinado à Ford. Turíbio Lombardi, gerente de vendas e marketing, diz que a empresa recebeu pedidos um dia antes do anúncio do fim da produção. “A paralisação afetou 30% da nossa produção de conexões para linha de freio e combustível.” Com 140 funcionários, a empresa estuda dar férias coletivas a parte deles.
Em Guarulhos (SP), a Cummins dispensou 70 operários que tinham contratos temporários por mais seis meses, informa o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local, Josinaldo José de Barros. A fábrica tem 1,3 mil funcionários e dedicava 25% da produção de motores à Ford. A Cummins espera que essa produção seja absorvida por outras fabricantes.
“Como o mercado de caminhões está em plena recuperação, acreditamos que, no médio prazo, outros clientes vão dividir a parcela que era da Ford”, diz Besaliel Botelho, presidente da Bosch, que faz diversos componentes eletrônicos. Ele admite que, no curto prazo, o impacto da interrupção do fornecimento “será importante”.
Em 2018, as vendas de caminhões somaram quase 76 mil unidades, 46% a mais que em 2017. A Ford respondeu por 12% dos negócios. Para este ano, o setor prevê nova alta de 15%. A Volkswagen Caminhões e a Mercedes-Benz já entraram na disputa pela clientela da Ford.
É com essa substituição que Reynaldo Contreira, presidente da Wabco, conta. Cerca de 5% do faturamento do grupo vêm das vendas de compressores de ar e cilindros de freios para caminhões Ford.
Do faturamento das cinco fábricas de peças plásticas da Autometal no ABC e São Paulo, 5% vêm das vendas para a Ford. “Vamos desenvolver novos projetos para usar essa capacidade com outros clientes”, diz Júlio César Sanches, responsável pelo grupo.
Enquanto a situação não é resolvida, a empresa poderá dar férias coletivas. Só as unidades do ABC empregam mil trabalhadores. “Se os novos projetos não derem certo, haverá cortes”, lamenta Sanches. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)