O Estado de S. Paulo/Notas e Informações
Pior que fraco, o desempenho da economia tem sido decepcionante, neste início de ano, e por isso, em primeiro lugar, a taxa básica de juros deve continuar em 6,50%, segundo o Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). A explicação aparece no começo da nota distribuída depois da última reunião do comitê, anteontem. Não se trata mais de uma recuperação apenas “gradual”, expressão usada em vários comunicados nos últimos meses.
Recentes indicadores de atividade apontam um “ritmo aquém do esperado”, de acordo com o texto. Não seria, portanto, mais eficiente um corte de juros para baratear o crédito, estimular os negócios e abrir caminho para a criação de empregos? Alguns analistas têm defendido uma política mais frouxa, mas o Copom tem razões muito boas para continuar cauteloso. O governo ainda tem de avançar na política de ajustes e reformas para dar segurança ao mercado quanto à evolução dos preços no médio e no longo prazos. Este é o segundo grande argumento a favor da manutenção da taxa básica, a Selic, em 6,50%.
Os dois argumentos são complementares. O primeiro, o baixo ritmo da atividade econômica, desaconselha um aumento dos juros. O segundo, a insegurança quanto à evolução da política fiscal, ainda incerta, apesar das promessas, aponta o perigo de uma nova redução do custo do dinheiro. A solução mais prudente, considerados os dois pontos, seria mesmo a manutenção da taxa no patamar alcançado há um ano.
As condições internas indicam, neste momento, pouco risco de pressões inflacionárias significativas. Do lado externo, tudo indica juros ainda baixos por longo período, se isso depender do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu. Os dirigentes do Fed acabam de reafirmar a disposição de avançar muito lentamente na alta de juros, conhecida no jargão profissional como “normalização” da política monetária americana.
Outros fatores poderão perturbar o cenário, mas os dados mais importantes indicam, por enquanto, condições favoráveis à manutenção, no Brasil, dos juros mais baixos da série histórica da taxa Selic. Com isso se preserva uma “política monetária estimativa”, com juros abaixo da taxa estrutural. A taxa estrutural seria aquela compatível com as condições brasileiras, se a economia estivesse operando com amplo aproveitamento de recursos. Mas essa taxa poderá ser mais baixa, mesmo com maior dinamismo econômico, se as finanças públicas forem mais saudáveis e se ganhos de eficiência permitirem maior crescimento por um longo período.
O reconhecimento de uma atividade em ritmo “aquém do esperado” foi a novidade mais importante na primeira reunião do Copom com participação do novo presidente do BC, Roberto Campos Neto. Na próxima reunião, dentro de um mês e meio, o cenário poderá ser mais animador, se houver avanço significativo na reforma da Previdência.
Por enquanto, a política monetária reflete a incerteza quanto à execução da política econômica e a percepção de um quadro econômico pior que o do fim de 2018. Os dados conhecidos de janeiro mostram indústria em queda, consumo em alta muito modesta e serviços estagnados. Até agora, há poucos dados da evolução econômica em fevereiro. A atividade das montadoras de veículos permanece como um raro sinal positivo. A Fiesp contabilizou a criação líquida de 2.500 empregos na indústria paulista. Sem ajuste sazonal, foi um aumento de 0,11%. Com ajuste, uma redução de 0,08%. Por qualquer dos critérios, foi um resultado pífio, com manutenção de um quadro ruim.
Não tem sentido cobrar do BC mais estímulos monetários, quando o quadro da política econômica é tão incerto. A insegurança é realimentada no dia a dia pela baixa eficiência do governo na mobilização de apoio à reforma da Previdência e pelo escasso envolvimento do presidente da República nas negociações e no debate dos assuntos mais importantes. Sobram tuítes, faltam ações na direção correta. (O Estado de S. Paulo/Notas e Informações)