Diário do Transporte
Lançado em janeiro de 2015, o Volare Access, miniônus com chassi Agrale com piso baixo e motor traseiro, ganhou espaço no mercado de veículos urbanos desde então.
Uma coisa que pouca gente sabe, no entanto, é o sistema de refrigeração do motor, desenvolvido pela Agrale em parceria com a SPAL, e com a participação importante da Cummins.
Trata-se do Electric Engine Cooling (EEC), sistema de resfriamento do motor que tem como diferencial a utilização de ventiladores elétricos SPAL, que trabalham independentemente do motor, ao contrário do sistema tradicional.
A vantagem deste sistema é que ele permite que o motor do ônibus funcione na temperatura correta, resultando em ganhos já comprovados em testes: melhor eficiência de combustível, custos operacionais mais baratos e uma vida prolongada para o motor.
Diferentemente dos kits de EEC instalados já em seis ônibus de diferentes operadoras e empresas de São Paulo (em parceria SPAL/Modine), o modelo desenvolvido pela Agrale incorporou a tecnologia ao chassi já na linha de produção do modelo Volare Access.
A reportagem do Diário do Transporte conversou com Wiliam Menegotto, supervisor de Engenharia da Agrale, que nos contou como foi esse projeto desde o início.
“Estamos falando de um chassi para miniônibus com motor traseiro. No início, tínhamos como meta a excelência em todo o projeto, pois era uma oportunidade ímpar de fazermos o melhor veículo de motor traseiro da categoria. Durante o desenvolvimento tivemos que buscar muitas soluções diferentes das usuais. E acredito que conseguimos, esse veículo é único no mercado brasileiro”, descreve Menegotto.
William conta que desde o primeiro protótipo até a fase de produção houve muitas alterações e melhoras na performance do sistema.
“A opção por um sistema com eletroventiladores, ao invés dos sistemas normalmente usados em veículos com motor traseiro (ventilador acionado por correias ou ventilador com motor hidráulico), nos permitiu aprimorar e otimizar o pacote de refrigeração. Hoje o EEC está em funcionamento como um sistema inteligente, que aciona os ventiladores elétricos gradualmente, conforme a necessidade de potência para o sistema de refrigeração do veículo. O sistema de controle é todo feito com as informações dispostas na linha CAN do veículo”, descreve.
William explica que o sucesso do miniônibus Volare Access se deve, em grande parte, a uma série de novidades no projeto original, e dá como um exemplo “sua facilidade e amigabilidade em acessibilidade, que permite ganhos de tempo no embarque e desembarque”.
Mas além disso, e de todo um pacote tecnológico, ele conta que “o sistema de cooling instalado permite que o Volare Access transite, por exemplo, no sistema de transporte escolar de Dubai”. Relembre: Volare comercializa miniônibus de piso baixo para Dubai (agosto/2016)
Mas o sistema EEC só está disponível, por ora, no Volare Accesse. William explica o motivo: “Para os demais veículos com motor dianteiro acreditamos que ainda não é viável financeiramente a instalação desse sistema, pois tem um custo relativamente superior ao sistema atual, onde o ventilador está instalado diretamente no motor. Mas sempre temos esse sistema nos novos desenvolvimentos de chassis para ônibus da Agrale”.
No Brasil já se pode ver miniônibus Volare ACCESS em várias cidades atuando no transporte urbano, que é o seu foco, afirma William.
É o caso de São Paulo, onde a empresa MobiBrasil opera uma linha que liga o Terminal Jabaquara e o Centro Paralímpico desde março de 2018, e mais recentemente a linha 476L-10 (Metrô Vila Mariana/Lar Escola São Francisco). Há também modelos operando em Santos e Florianópolis, entre outras cidades. Relembre: Em entrega de linha de linha acessível, Bruno Covas diz que novos contratos dos ônibus serão assinados até o final de janeiro (dezembro/2018)
Outra novidade que o supervisor de engenharia da Agrale nos conta é que a empresa desenvolveu, e já está em uso, uma aplicação desse sistema de cooling para transmissão automática.
Retrofit
A utilização de eletroventiladores com motores eletrônicos e selados assegura a melhor eficiência no resfriamento do motor, motivo pelo qual é largamente usada na tecnologia de restrição a emissões Euro 6, já em vigor na Europa. Uma informação importante para o mercado brasileiro é a de que essa tecnologia de resfriamento pode ser usada também em veículos mais antigos, como Euro 3, e os atuais Euro 5 no Brasil.
O EEC já está em teste em 6 ônibus de diferentes operadoras do transporte coletivo urbano de São Paulo, além de um ônibus rodoviário da empresa Breda, que faz a rota São Paulo – Peruíbe. Mas nesses casos, um Kit com o equipamento foi inserido em lugar do sistema de refrigeração tradicional, e algumas adaptações tiveram de ser feitas.
Desde outubro de 2016, a SPAL, em projeto com a Modine, já equipou com o EEC veículos que circulam na cidade de São Paulo nas empresas Santa Brígida (o primeiro, em outubro de 2016); Sambaíba e Cidade Dutra (em dezembro de 2017); Vip, no dia 30 de janeiro de 2018, na Express Transportes Urbanos, em fevereiro de 2018, e em março do mesma ano na Via Sul, empresa que atua no Subsistema Estrutural da Cidade de São Paulo na área cinco.
No caso da Breda, o EEC foi instalado em um ônibus Mercedes-Benz, O500R Euro 5, com motor de 310 CV, ano 2016. Trata-se do primeiro ônibus rodoviário no país a rodar com esse sistema de refrigeração.
O ônibus roda desde o dia 19 de julho de 2018 em uma linha diária de fretamento entre São Paulo e Peruíbe, percorrendo uma distância de quase 140 quilômetros a cada viagem.
Saiba mais sobre o EEC
O Electric Engine Cooling – sistema de Resfriamento elétrico do motor tem como diferencial a utilização de ventiladores elétricos, que trabalham independentemente do motor, diferentemente do sistema tradicional.
De uma maneira resumida estas são as principais vantagens do EEC:
– Redução do consumo de combustível entre 5% e 8% (Motor trabalha mais leve);
– Uso mais eficiente da energia graças ao melhor controle da velocidade do ventilador;
– Níveis menores de ruído;
– Possibilidade de integrar os ventiladores com o sistema CAN ou PWM, para que possam otimizar as operações antecipando situações de maior demanda de resfriamento;
– Motores 30 kg mais leves;
– Dispensa de refrigerador de óleo – necessitando de 20% menos fluxo de ar;
– Uso de ventiladores múltiplos, o que permite que o fluxo de ar seja distribuído de maneira mais uniforme em todo o radiador, aumentando o tempo de vida do equipamento.
Sobre a SPAL
Fundada na Itália em 1959, a SPAL inicialmente se especializou em projeto e produção de moldes de plástico, e agora, passados mais de 30 anos, projeta, produz e comercializa ventiladores axiais de alto desempenho, além de sopradores centrífugos para carros, ônibus, veículos off-road, máquinas de construção, tratores agrícolas, caminhões, powersports e equipamentos industriais.
A empresa italiana tem uma forte presença no mercado global: atualmente sua unidade de produção em Correggio, comuna da província italiana de Reggio Emilia, ocupa uma área total de produção de 80.000 m², com mais de 1.000 funcionários, onde abriga os departamentos de engenharia, pesquisa e desenvolvimento e fabricação. São seis linhas de produção automatizadas, que têm capacidade para produzir mais de 5 milhões de eletroventiladores por ano.
Não à toa, a SPAL Automotive é líder mundial no projeto e fabricação de eletroventiladores axiais e centrífugos (Blowers) 12V e 24V utilizados pela maioria dos fabricantes de veículos e equipamentos.
Paulo Leme, diretor geral da SPAL Automotive do Brasil, cita alguns exemplos de aplicação dos eletroventiladores: “sistema de ar-condicionado para ônibus, micro-ônibus e vans; sistema de refrigeração para caminhões baú; sistema de arrefecimento do motor; refrigeração do óleo hidráulico; refrigeração do sistema de freio; defroster; cortinas de ar; dentre outros”. (Diário do Transporte/Alexandre Pelegi)