Indústria à espera do arranque

O Estado de S. Paulo/Notas & Informações

 

Desemperrar a indústria será uma das tarefas mais urgentes e mais importantes para o sucesso do novo governo, como confirmam os últimos números do setor, mas pouco se sabe, até agora, sobre medidas para dinamizar a economia. A produção industrial cresceu 0,1% de outubro para novembro, depois de quatro meses consecutivos de recuo, e continuou 16,4% abaixo do nível atingido em maio de 2011, oito anos e meio antes. Empresários e consumidores tornaram-se mais confiantes depois das eleições, segundo várias sondagens, mas a melhor disposição parece ter produzido resultados ainda modestos no fim do ano, pelos dados conhecidos. As festas de fim de ano trouxeram alguma animação, mas temperada pela cautela. De 18 a 24 de dezembro, as vendas foram 3,8% maiores que as de 2017, de acordo com a Serasa Experian. Mas, apesar de dois anos de crescimento, permaneceram inferiores às de 2013.

 

A recessão foi vencida, mas o desemprego elevado e as incertezas políticas impediram uma recuperação mais acentuada. O novo governo passou a concentrar as apostas em tempos melhores para o consumo, a produção e o emprego. As expectativas parecem continuar elevadas, mas o presidente e seus ministros foram pouco além dos discursos de campanha e deram poucos sinais de como pretendem dinamizar o País. Enquanto isso, cada novo número divulgado torna mais claro o tamanho do desafio.

 

Apesar da expansão mensal de 0,1%, a produção industrial de novembro foi 0,9% menor do que a de um ano antes. O volume acumulado em 2018 foi 1,5% maior que o de janeiro a novembro de 2017. O total produzido em 12 meses foi 1,8% maior que o do período imediatamente anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As projeções do mercado para o ano todo apontam para um resultado próximo desse.

 

Em novembro, só uma das três grandes categorias, a de bens de capital (máquinas e equipamentos), teve resultado superior ao de um ano antes, com diferença positiva de 3,5%. A produção de bens intermediários e de bens de consumo foi menor que a do mês correspondente de 2017.

 

Em 12 meses, o maior aumento foi o do volume produzido de bens de capital, de 8,3%. Em segundo lugar ficou o segmento de bens de consumo (2,1%) e em terceiro, o de bens intermediários (0,9%). Dentre os bens de consumo, os duráveis tiveram a maior expansão (10,3%), graças, principalmente, à fabricação de veículos, carrocerias e reboques (1,22%). O crédito ao consumidor contribuiu de forma importante para a melhora do setor automobilístico.

 

Os números das montadoras são os mais atualizados e cobrem os 12 meses de 2018, graças ao acompanhamento realizado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

 

Segundo esses dados, a produção mensal de veículos montados diminuiu 6,9% em novembro e 27,4% em dezembro. Este último número prenuncia um resultado fraco para a categoria dos bens duráveis no balanço do IBGE relativo ao final do ano. Apesar do recuo no último bimestre, no entanto, as montadoras produziram no ano passado 6,7% mais do que em 2017, segundo a Anfavea. Com a fabricação de 2,88 milhões de veículos em 2018 completaram-se dois anos consecutivos de crescimento e atingiu-se o melhor desempenho desde 2014. Mas o resultado ainda foi inferior ao de 2013, quando as montadoras entregaram 3,15 milhões de unidades.

 

Na maior parte do setor industrial há muita capacidade ociosa. Graças a isso e à ampla oferta de mão de obra, será possível dinamizar a atividade sem gerar grandes pressões inflacionárias. A recuperação começará em poucos meses se o governo iniciar com rapidez o programa de ajustes e reformas, definir um rumo claro para sua política e mobilizar capital privado para infraestrutura. É hora de exibir espírito prático, iniciativa e competência administrativa. Não se irá muito longe insistindo na mera pregação ideológica e religiosa e na tentativa de exorcizar um imaginário passado socialista. (O Estado de S. Paulo/Notas & Informações)