Para Anfavea, montadoras terão de arcar com as consequência de suposto esquema com Lula

O Estado de S. Paulo

 

O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale, comentou as acusações do ex-ministro Antonio Palocci sobre a formação de lobby entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o setor automobilístico para favorecimento em medidas de incentivos fiscais às montadoras.

 

Durante a apresentação dos resultados de novembro à imprensa, em São Paulo, nesta quinta-feira, 6, Megale afirmou que se as acusações na delação de Palocci forem comprovadas, as montadoras envolvidas “naturalmente terão de arcar com as responsabilidades”.

 

Palocci, que foi ministro da Fazenda no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, disse hoje, em depoimento à Justiça Federal do Distrito Federal, que Lula negociou com o lobista Mauro Marcondes Machado, do setor automobilístico, pagamentos a Luís Cláudio Lula da Silva, filho caçula da ex-presidente, para a aprovação de uma Medida Provisória que tinha como finalidade prorrogar incentivos fiscais de montadoras instaladas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

 

Delação de Palocci

 

O presidente da Anfavea, após ser questionado por jornalistas sobre o assunto, garantiu que “setorialmente não aconteceu nada”. “Pode ter ocorrido com uma ou outra empresa, mas eu prefiro ver o depoimento dele, ao qual eu ainda não tive acesso, para tecer maiores comentários”, disse Megale.

 

Produção em queda

 

No âmbito exclusivamente econômico, a Anfavea, associação que reúne as montadoras instaladas no País, divulgou nesta quinta-feira os resultados do setor em novembro, mês que a fabricação de veículos voltou a cair, tanto na comparação com o mês anterior, quanto no interanual.

 

Foram 245,1 mil unidades fabricadas, queda de 1,6% em relação a igual mês do ano passado e de 6,8% sobre o resultado de outubro.

 

A última retração ocorrida na comparação ano a ano havia sido em setembro, de 6,3%. Em outubro, houve crescimento de 5,2%. O recuo interanual no mês passado também interrompe uma sequência de avanços nos meses de novembro. Em 2017, houve expansão de 13,7% e, em 2016, de 26%.

 

Apesar da oscilação nos últimos meses, o resultado acumulado do ano se mantém em alta. São 2,7 milhões de unidades produzidas de janeiro a novembro, expansão de 8,8% em relação a igual intervalo do ano passado, variação um pouco abaixo da projeção da Anfavea para o ano todo, de 11,1%.

 

Anfavea

 

O recuo da produção em novembro foi acompanhado por demissões. No mês passado, as montadoras eliminaram 120 vagas. No entanto, em 12 meses, o saldo segue positivo, com 3.260 postos criados. Hoje, o setor conta com 131.254 funcionários, 2,5% a mais que em novembro do ano passado.

 

Queda nas exportações

 

Em razão da crise da Argentina, a Anfavea reconheceu que a exportação de veículos em 2018 será menor do que a sua projeção oficial, que já havia sido revisada para baixo em outubro.

 

Hoje, a previsão das montadoras é que o ano termine com 700 mil unidades exportadas, queda de 8,6% em relação ao ano passado, que foi recorde, com a venda de 766 mil veículos para o exterior.

 

No entanto, o presidente da associação, Antonio Megale, afirmou em coletiva de imprensa que o número mais realista para 2018 é de algo entre 600 mil e 650 mil unidades.

 

A Argentina é o principal destino das exportações brasileiras de veículos, recebendo cerca de 70% do total embarcado. Desde maio, no entanto, o país vizinho tem passado por uma forte depreciação da sua moeda e seguidas altas nas taxas de juros, que diminuíram a demanda pelos carros produzidos no Brasil.

 

Em novembro, foram 34,3 mil veículos exportados no mês passado, retração de 53% em relação a novembro do ano passado e de 11,3% na comparação com outubro. No acumulado de janeiro a novembro, são 597,3 mil unidades exportadas, recuo de 15,3%.

 

Em valores, a queda é de 32,8% ante igual mês do ano passado, para US$ 957,1 milhões. Em relação a outubro, o resultado representa recuo de 1,4%. No acumulado do ano até novembro, o setor tem recuo de 5,2%, para US$ 13,7 bilhões. (O Estado de S. Paulo/André Ítalo Rocha)