O Estado de S. Paulo
O dólar fechou a segunda-feira, 26, com a maior alta registrada num mesmo pregão em mais de um ano e meio. A moeda americana terminou cotada a R$ 3,9227, subindo 2,58% em relação ao fechamento anterior, maior valorização diária registrada desde 18 de maio de 2017. O dólar subiu mais de 8% naquele dia, batizado de “Joesley Day”, devido à delação de Joesley Batista, da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer.
A cotação desta segunda-feira é a mais alta da divisa em quase dois meses – em 2 de outubro, ela acabou negociada a R$ 3,9304.
Já o Ibovespa, principal índice de ações do País, foi contaminado pela alta do dólar e acabou a sessão aos 85.546,51 pontos, em baixa 0,79%.
Os ativos dos países emergentes sofrem neste início de semana com uma aversão global ao risco, diante da percepção de desaceleração mundial nos próximos anos, que deu força à moeda americana. Aqui, no entanto, a alta é mais forte, segundo operadores, com bancos se posicionando comprados já se antecipando aos movimentos, comuns em dezembro, de remessa de dividendos de multinacionais ao exterior e retorno de fundos a seus países de origem.
A pressão de alta do dólar ante o real vem de um conjunto de fatores, entre eles as perspectivas sobre os preços das commodities. Apesar de recuperar valor nesta segunda-feira, 26, o petróleo deve continuar caindo, na avaliação do economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito.
Ele entende que o otimismo do investidor local com o governo de transição de Jair Bolsonaro (PSL) não é compartilhado pelo estrangeiro, que continua saindo do mercado brasileiro. A forte depreciação do minério de ferro no mercado à vista chinês hoje, que afeta diretamente as mineradoras globalmente, também prejudica os termos de troca de exportadores como o Brasil, na avaliação do economista-chefe da Guide Investimentos, João Maurício Rosal.
Em coletiva de imprensa nesta manhã, o coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Luis Felipe Vital, relatou que o aumento da participação de estrangeiros em outubro no estoque de títulos públicos brasileiros aconteceu em meio à melhora do cenário de risco da dívida.
“O fluxo de saída de não-residentes vinha se reduzindo nos últimos meses e agora tivemos um fluxo positivo em outubro de cerca de R$ 9,9 bilhões”, detalhou. “À medida que a percepção de risco no mercado doméstico diminui a tendência é haver um fluxo maior de entrada de estrangeiros”, completou. (O Estado de S. Paulo/Karla Spotorno, Barbara Nascimento e Pedro Ladislau Leite)