O Globo
Carros que podem rodar movidos a eletricidade ou gasolina. Veículos com direção semiautomática. E muita conectividade. Esses são os principais pilares que vêm recebendo investimentos das montadoras no Brasil quando se fala de inovação. E elas têm pressa para garantir um lugar na garagem do brasileiro. A expectativa é que em 2030 modelos elétricos e com funções autônomas somem 40% do mercado de automóveis no Brasil. Naquele ano, a Alemanha pretende ter acabado com a venda de carros a gasolina. Em 2040, será a vez de França e Reino Unido.
Novas companhias globais, como a Tesla, do bilionário Elon Musk, chacoalham a indústria com a tecnologia do motor elétrico. Por aqui, as montadoras esperam que os investimentos em inovação ganhem força com a aprovação pelo Congresso do Rota 2030, programa de incentivos fiscais ao investimento em pesquisa e desenvolvimento que renova os subsídios ao setor. Para Antônio Jorge Martins, coordenador do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), as pesquisas podem até levar a carros mais eficientes, mas faltou debate sobre o que o país espera do setor:
“Não foram estabelecidas metas. É preciso traçar algo específico. Os investimentos já seriam feitos independentemente do programa, pois há muita competição”.
Num centro de tecnologia instalado na Bahia que conta com mais de 1.200 engenheiros, a Ford vem desenvolvendo em parceria com equipes do exterior novos modelos com diferentes níveis de eletrificação e carros semiautônomos. Rogelio Golfarb, vice-presidente de Assuntos Corporativos da Ford na América do Sul, diz que os carros não são 100% elétricos, pois ainda falta infraestrutura para o abastecimento com energia elétrica. A saída tem sido o desenvolvimento de modelos híbridos, que rodam tanto com energia quanto com gasolina:
“Também investimos em modelos semiautônomos. Um exemplo é a direção elétrica, que pode ser programada, permitindo maior rigidez ao volante em alta velocidade e criando alertas em momentos de distração do motorista”.
De olho no consumidor do futuro, a Nissan prepara para o ano que vem o lançamento do seu primeiro carro 100% elétrico, que conta com conectividade e tecnologias semiautônomas, como a condução em uma única faixa e um sistema que assume o controle da direção para estacionamento sem a interferência do motorista. Outro exemplo é a solução que ativa os freios quando o condutor solta completamente o acelerador. Isso permite que o carro fique parado em uma ladeira.
“Os pilares são carros elétricos e conectados. Estamos fechando uma série de parcerias para criar uma rede de postos elétricos. Hoje, 32 marcas já contam com carros elétricos no mundo. As cidades também vão estar conectadas. Hoje, os carros autônomos só conseguem fazer funções em uma mesma faixa” destacou o presidente da companhia, Marco Silva.
Para o executivo, o Rota 2030 vai ajudar a trazer essas inovações para o Brasil, embora acredite que o programa precisa de ajustes para esclarecer alguns pontos. Entre eles, metas de eficiência energética e o detalhamento maior de quais áreas serão alvos dos incentivos à pesquisa.
“Já estamos estudando, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, a reutilização da segunda vida da bateria de um carro elétrico” disse Silva.
Inteligência Artificial
Leandro Teixeira, diretor de Marketing da Volvo, empresa que vem investindo em modelos semiautônomos, observa que hoje os carros já conseguem, com base em um sistema de câmeras e radares, antecipar alguns movimentos até mais rapidamente que o motorista, como frear para evitar acidentes. Além disso, ele lembra que a maior conectividade permite que os veículos sejam ligados e suas portas abertas ou fechadas de forma remota por meio de um aplicativo.
“Esse aplicativo é ligado à central da empresa e ao próprio carro. Então, no caso de um acidente, se a pessoa não responder, o sistema de socorro é acionado. A tecnologia é um meio para tornar tudo mais seguro”.
No início deste ano, a Volkswagen lançou no Brasil seu primeiro automóvel com aplicações de inteligência artificial. O carro dá ao motorista informações contidas no manual do carro. Segundo a montadora, a inovação, que foi criada no Brasil, começou com seis mil perguntas e hoje já é capaz de responder a 11 mil. É fruto do aperfeiçoamento a partir da interação com os condutores. Agora, a empresa estuda levar a inovação para outros países, como os EUA. (O Globo/Bruno Rosa)