ES Hoje
Carros totalmente autônomos, design voltado ao propósito e foco na prestação de serviços. Essas são as principais tendências apontadas por um estudo elaborado pela consultoria Cognizant sobre o futuro do setor automotivo até 2025. Para se adaptarem, as montadoras terão de migrar para um modelo de negócios baseado em serviços e na experiência do consumidor.
“A cadeia de valor da indústria mudará do modelo tradicional fornecedor-montadora-concessionária-consumidor, para um ecossistema interconectado de vários provedores, incluindo empresas de tecnologia, de infraestrutura, serviço de mobilidade e conectividade, entidades de gerenciamento de tráfego. Os participantes desse ecossistema precisarão definir sua proposição de valor e, em seguida, formar parcerias para construir e entregar produtos e serviços verdadeiramente diferenciados”, comenta Roberto Wik, diretor de Manufatura e Logística da Cognizant no Brasil.
Segundo o estudo, com capacidades cada vez mais autônomas e um declínio interesse na propriedade, o setor precisa se concentrar na experiência e inovação no trajeto percorrido, design orientado para o propósito e na transição para um modelo de negócio baseado em serviços.
Principais tendências
A primeira grande tendência verificada pelo estudo da Cognizant é a popularização dos veículos autônomos. A forma como cada montadora incorporará a inovação em seus produtos e serviços para o consumidor realizar seu trajeto definirá a liderança de mercado. Os novos participantes do ecossistema automotivo podem fornecer serviços internos para ampliar as ofertas principais das montadoras. Essa transformação terá grande impacto na sociedade como um todo porque muda a maneira como será a experiência dos clientes em seus trajetos de carro, surgindo uma série de novos produtos e serviços de mobilidade, centrados nessa experiência. Por exemplo, em vez de dirigir para o trabalho, uma pessoa pode aproveitar esse tempo lendo notícias no celular, trabalhando ou estudando. O foco será nas experiências que o consumidor poderá ter em seus trajetos cotidianos.
A segunda grande mudança será o entendimento de que o projeto dos veículos será conduzido por seu propósito – quando o objetivo principal for simplesmente ir de um lugar para outro –, e uma visão mais personalizada ao usá-los para recreação. Um carro tamanho família, por exemplo, não atende às necessidades de uma pessoa que o utiliza como meio de transporte, e vice-versa. Essa dicotomia na demanda deverá crescer ainda mais com o advento da mobilidade compartilhada de serviços e veículos autônomos. Como resultado, as montadoras precisarão começar a construir veículos que se destaquem em uma tarefa ou função específica, em vez de cumprir um propósito geral. Os veículos construídos com foco no propósito e a economia de compartilhamento influenciarão as montadoras a fazer mudanças em seu portfólio de produtos, particularmente por meio de novas ofertas baseadas em assinatura.
“Entretanto, há um segmento específico que a indústria automobilística não pode ignorar diante dessas tendências: aqueles que gostam de dirigir e querem manter o controle de sua experiência de condução. Enquanto o mercado de massa continuará a mudar em direção a um futuro autônomo, a cadeia de valor automobilística precisará levar esse segmento em conta ao projetar e construir carros, pelo menos nos próximos anos. Encontrar o equilíbrio entre essas duas tendências será fundamental”, ressalta Wik.
Por fim, o compartilhamento de carros mudará o modelo de negócios das montadoras. Como a propriedade de automóveis estará em forte declínio até 2025, particularmente nas áreas urbanas, e mais pessoas escolhem serviços de compartilhamento de carros autônomos, a tendência é, em vez de pensar em um único consumidor final, focar em criar um relacionamento com o cliente. Isso não será feito por meio de produtos customizados, mas sim mediante serviços e aplicações personalizadas. Como resultado, a proeza na fabricação não será mais o ponto de diferenciação, uma vez que as montadoras terão de competir nos serviços de mobilidade, mergulhando profundamente na imensa riqueza de dados à sua disposição para encontrar insights sobre seus consumidores e usar essas informações para criar veículos que proativamente resolvem problemas. Os clientes vão esperar que as empresas encontrem maneiras de aplicar dados gerando valor e inovação, caso contrário, os clientes rapidamente migrarão para outra marca. Esse problema se tornará especialmente agudo quando os custos de mudança caírem para zero, à medida que os consumidores vão da compra de um carro à assinatura de um serviço de mobilidade. “O cliente de 2025 exigirá mais da experiência de mobilidade e valorizará a experiência ao longo dos trajetos”, conclui Wik. (ES Hoje/Pedro Cunha)