Abertura econômica abrupta é risco para receita e emprego na indústria

DCI

 

Para colocar em prática o discurso de abertura econômica sem causar queda do faturamento e desemprego na indústria, a equipe do novo governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL) terá como principal desafio uma transição gradual.

 

O consenso entre entidades setoriais e analistas é que ainda não há uma clareza sobre a política industrial a ser adotada por Bolsonaro.

 

“Não tem nada tão definido. Aparentemente há um viés de maior abertura comercial, redução de tarifas, maior competitividade e retirada de barreiras tarifárias e não tarifárias”, avalia a professora de economia do Insper, Juliana Inhasz.

 

No entanto, seu provável ministro da Fazenda, Paulo Guedes, já comentou que o Mercosul não será prioridade, em meio a um cenário em que a Argentina é destino da grande maioria dos produtos manufaturados exportados pelo Brasil. “Tirar a proteção de alguns setores de uma hora para outra pode gerar uma forte queda da receita das indústrias e causar um desemprego muito grande”, afirma o economista da Macrosector, Fábio Silveira. Dentre os principais prejudicados de uma abertura abrupta, ele aponta o segmento de autopeças. “Na década de 1990, a abertura repentina do ex-presidente Fernando Collor levou à falência de diversas fábricas do ramo”.

 

Em comunicado, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) afirmou esperar que o novo governo promova “soluções urgentes” e que “construa e execute uma agenda de desenvolvimento sustentável, fortaleça a indústria, faça o ajuste das contas públicas e a retomada do crescimento da economia”.

 

Silveira ressalta que a proposta aventada pela equipe de Bolsonaro durante a campanha eleitoral de redução do imposto de importação para uma lista de produtos para “dar competitividade à indústria” poderia prejudicar fortemente a produção local. “Principalmente no setor automotivo e de eletroeletrônicos, corremos o risco de nos tornarmos importadores”.

 

O economista salienta que o novo governo precisará tratar a indústria de maneira global e não privilegiar segmentos específicos como no passado recente. “Renúncias fiscais de maneira isolada causam distorções sem uma reforma tributária”, complementa.

 

Outro setor importante para a indústria, o de máquinas e equipamentos, se mostra otimista. “O Brasil está pronto para voltar a crescer, reduziu a alavancagem das empresas, que há dois anos era muito alta. A vitória de Jair Bolsonaro traz confiança, que é importante para os investimentos do setor”, afirmou ao DCI o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso. Porém, ele faz alguns alertas. “O maior problema do Brasil é a questão fiscal. Hoje, não é compatível empreender no País, pelos juros de capital de giro e investimentos. Outra questão é a necessidade de uma reforma tributária que traga simplificação, justiça e uma carga mais moderada para indústria”.

 

Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) declarou que a expectativa é que o presidente promova as reformas estruturais necessárias para fazer o País avançar. Já para o professor dos MBAs da FGV, Mauro Rochlin, Bolsonaro tentará fazer a reforma da previdência, que não foi concluída pelo governo Temer. “Isso representa um ajuste fiscal pelo qual o mercado está aflito. O que ainda não sabemos é qual a força política que Bolsonaro terá e qual alcance essas reformas vão ter. Precisaremos esperar para ver qual cacife e disposição política ele vai ter”.

 

Mina de ouro

 

A indústria mineral, cujo peso na balança comercial do Brasil é significativo, espera uma interlocução maior com o novo governo. “A equipe do Bolsonaro sinaliza fortalecimento da iniciativa privada para investimentos na mineração. Mas é preciso desburocratizar a atividade, esclarecer a questão ambiental e melhorar a infraestrutura para escoamento do minério”, avalia o conselheiro da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), Luiz Vessani.

 

Para ele, o diálogo com a iniciativa privada é fundamental. “Vivemos 14 anos de obscurantismo no setor e mais dois anos de nebulosidade. Agora, o cenário se mostra mais claro”. (DCI/Ricardo Casarin)