Renault, Nissan e Mitsubishi fecham acordo para usar o Android, do Google

O Globo/Bloomberg

 

Renault, Nissan Motor e Mitsubishi Motors estão prestes a fazer o que muitas fabricantes de veículos vêm tentando evitar: deixar o Google entrar no painel. A aliança automotiva franco-japonesa anunciou uma parceria tecnológica que transformará seus veículos nos primeiros a usar o sistema operacional Android, do Google, no painel, permitindo que o software da Alphabet controle mapas, navegação, infoentretenimento e uma série de aplicativos instalados diretamente no carro. A maioria das montadoras permite o uso de Android Auto e CarPlay, da Apple, no painel apenas conectando um smartphone e projetando um número limitado de aplicativos na tela sensível ao toque do veículo.

 

A maioria das fabricantes de veículos tem buscado deixar o Google e a Apple à distância, na esperança de manter o controle sobre dados valiosos, como localização, padrões de condução, preferências de compra e uso de entretenimento do motorista. As montadoras também têm procurado formar suas próprias parcerias comerciais para vender serviços conectados, em vez de permitir que empresas de tecnologia, como o Google, ganhem dinheiro com isso.

 

“Estamos unindo nossas forças para construir um sistema melhor” disse Kal Mos, vice-presidente global de veículos conectados para a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. “Se você esquecer o telefone, ele funcionará perfeitamente bem no carro” disse, referindo-se ao sistema do Google.

 

Aplicativos android

 

A Volvo Cars já havia anunciado que começará a usar o Android em 2020, mas nenhuma outra fabricante de veículos fez o mesmo, disse Mike Ramsey, diretor de pesquisa da Gartner. Com Renault-Nissan-Mitsubishi, os motoristas poderão ter seus aplicativos, músicas e outros serviços favoritos no Android, conectados diretamente no carro. Além disso, poderão controlá-los por voz, usando o Google Assistant.

 

Os clientes da Renault, da Nissan e da Mitsubishi que têm iPhones, da Apple, poderão continuar projetando aplicativos na tela sensível ao toque como fazem agora, disse Mos. Caberá a cada fabricante de veículos criar sua experiência individual dentro do carro usando o sistema operacional Android e planejar quando o oferecerão em modelos específicos, a partir de 2021.

 

Propriedade de dados

 

O controle dos dados do motorista e do veículo tem sido um problema delicado para as fabricantes de automóveis. Enquanto o Google fatura bilhões de dólares monitorando padrões de busca na internet para os anunciantes, as montadoras têm separado dados de diagnóstico a respeito do desempenho do veículo dos sistemas de infoentretenimento. Algumas usam seus próprios sistemas de navegação, que oferecem aos motoristas uma alternativa aos mapas do Google e da Apple. Quando o Android for incorporado aos veículos da joint-venture, a navegação será feita com o Google Maps, mas os dados de diagnóstico ficarão em um sistema separado.

 

Como acontece com qualquer aplicativo em um telefone, os usuários Android dos futuros modelos Renault-Nissan-Mitsubishi terão a opção de concordar ou não com o compartilhamento de seus dados ao usar o aplicativo, disse Patrick Brady, vice-presidente de engenharia para o Android.

 

“Na maioria dos casos, o usuário da plataforma Android tem que dar seu consentimento”, disse Brady, em entrevista por telefone.

 

Ações em queda

 

Após o anúncio da parceria das montadoras Renault, Nissan e Mitsubishi com o Google, as ações da empresa de mapeamento digital holandesa TomTom perderam mais de 25% do valor nesta terça-feira. Os papéis chegaram a recuar 26,3%, a € 6,28, no caminho para seu pior dia em sete anos, perdendo cerca de € 500 milhões em valor de mercado.

 

A TomTom fez seu nome no início dos anos 2000 introduzindo os populares aparelhos de navegação pessoal, mas tem visto o mercado encolher nos últimos anos com a invenção dos smartphones. Grande parte de seu valor de mercado de € 1,5 bilhão é atualmente baseado na esperança de que a empresa possa fechar negócios com montadoras para fornecer mapas para os equipamentos de navegação embutidos nos veículos. Os acordos de licenciamento representaram um terço da receita da TomTom no ano passado.

 

“Isso é um grande golpe para a TomTom” disse o analista da InsingerGilissen, Jos Versteeg. “A empresa sempre disse que as montadoras querem fornecedores independentes de mapas, mas agora o Google ganhou espaço nos carros. Isso faz com que a oferta da TomTom para competir com o Google na indústria automotiva seja menos esperançosa”.

 

A TomTom informou um prejuízo líquido de € 204 milhões e receita de € 903 milhões em 2017, e prevê que as vendas cairão para cerca de € 825 milhões este ano. A empresa não pode ser imediatamente contatada para comentar o assunto. (O Globo/Bloomberg)