Novos rumos na locação de veículos

AutoIndústria

 

Alguns movimentos são bem claros no setor de locação de veículos. Locadoras passam a investir mais em novos nichos de mercado, como o de compartilhamento de veículos em condomínios, e cresce o turismo de negócio. Também aumenta o interesse pelo aluguel de longo prazo entre as pessoas físicas, que começam a preferir a locação aos gastos de ter um carro próprio.

 

Ainda não há estatísticas sobre algumas dessas tendências, mas nesta entrevista exclusiva Paulo Miguel Júnior, presidente do Conselho Nacional da Abla, a Associação Brasileira das Locadoras e Consórcios, deixa clara a posição da entidade: “As locadoras de veículos são um dos principais players no novo cenário de mobilidade”. Como admitem as próprias montadoras, a mobilidade do futuro passa necessariamente pelo multimodal. Vale conciliar tudo para ganhar tempo e dinheiro – metrô, ônibus, bicicleta, avião, táxi e, lógico, também o automóvel, seja ele próprio ou alugado.

 

No início do ano o senhor previu crescimento de 10% a 12% no faturamento do setor de locação em 2018. Essa projeção está mantida?

Até poderíamos superá-la se não tivesse ocorrido a greve dos caminhoneiros em maio. Mas o movimento gerou desabastecimento e, com isso, também adiamento de compras. Até agosto crescemos 10% e acreditamos que conseguiremos atingir nossa meta para o ano. Será uma expansão semelhante a de 2017, quando atingimos faturamento bruto de R$15,5 bilhões, 12,3% a mais do que no ano anterior. O número de usuários avançou 17,2%, passando de 23,2 milhões 27,2 milhões.

 

Como ficou a frota das locadoras?

Fechamos o ano passado com 709 mil veículos, 12% maior do a de 2016. Compramos ao longo do ano total de 359,7 mil veículos, o que representou participação de 16,5% do total de emplacamentos no País.

 

Qual a previsão de compras para este ano?

Estamos mantendo projeção feita no início do ano: compra de 400 mil novos veículos, ou seja, 11,2% a mais do que no ano passado. No primeiro semestre foram adquiridos 250 mil.

 

Há tendência de crescimento no número de locadoras no País?

No ano passado atingimos 11.482 locadoras em operação no Brasil, um pequeno acréscimo de 2,5% sobre 2016. Mas vale lembrar que a concentração dos negócios em poucas empresas é grande. Cerca de 65% do faturamento do setor estão nas mãos de dez locadoras. E recentemente tivemos duas junções – Locamérica e Unidas e Movida com Avis. É um processo de fusões ainda em curso.

 

“Poderíamos ter superado as projeção não fosse a greve dos caminhoneiros”. Como sobrevivem as pequenas locadoras?

Em geral elas atuam em nichos de mercado e têm atuação mais regional. Um exemplo são as que operam em área restrita de condomínio com compartilhamento de veículos em períodos curtos.

 

Esse movimento se enquadra na propagada tendência de no futuro a preferência do consumidor ser por não ter carro próprio?

Certamente há uma tendência de as pessoas deixarem de ter carro próprio e optarem pelo aluguel. É um novo mercado que está surgindo para as locadoras. As pessoas físicas deixam de comprar e locam um carro por doze ou 24 meses. Se computar a depreciação do carro, taxas como IPVA e seguro, fica mais barato alugar.

 

Nesses casos, o preço é menor no aluguel de curto prazo? O senhor saberia quantificar quanto já representa esse novo nicho?

O preço é completamente diferente, contempla a garantia do aluguel por um tempo maior. Não tenho número das pessoas físicas que estão optando por alugar por um ano ou mais. Mas é uma demanda que tem crescido. No caso das pessoas jurídicas são bastantes representativos os contratos de longo prazo.

 

Qual a participação?

Cerca de 60% dos negócios estão direcionados a locações de longo prazo. São as empresas que preferem terceirizar a ter frota própria.

 

As locadoras não planejam investir no mercado de compartilhamento de carros?

Esse mercado no Brasil ainda é muito pequeno. Tem o modelo aberto, a partir do qual o cliente pega o carro em um lugar e deixa em outro. E o fechado, quando a retirada e entrega se dá num mesmo local.  Este segundo caso funciona bem dentro de um condomínio, como já vem acontecendo. Mas o modelo aberto é mais complicado. Depende de infraestrutura e de incentivos, como, por exemplo, ter isenção de zona azul para que o usuário pegue o carro em um lugar e depois deixe em outro.

 

“A tendência é de pessoas deixarem de ter carro próprio e optarem pelo aluguel. É um novo mercado que está surgindo para as locadoras”.

Qual o papel das locadoras no novo conceito de mobilidade de maior intercâmbio entre os meios de transporte e também a opção por não ter carro próprio?

Tenho falado muito sobre isso. Um dos principais players da mobilidade são as locadoras. Posso fazer uma viagem de avião ou ônibus e alugar um carro no local de destino. Todo mundo achava que isso era complicado e caro. Mas hoje os preços são mais acessíveis. Não há espaço para reajustes.

 

Quanto o turismo representa nos negócios das locadoras?

O setor de turismo, seja de lazer ou de negócios, tem participação de 42% em nossos negócios. Foram 11,3 milhões de usuários no ano passado, contra 9,7 milhões no anterior.

 

Qual tipo tem maior representatividade?

O de turismo ainda é o mais representativo, com 6,2 milhões de usuários no ano passado. Mas perdeu participação nos últimos dois anos – baixou de 25% para 23%. Em contrapartida, a participação do turismo de negócios no setor cresceu de 17% para 19%, passando de 3,9 milhões para 5,1 milhões de usuários. Já a participação da terceirização da frota se manteve a mesma, na faixa de 58%. (AutoIndústria/Alzira Rodrigues)