Invenção brasileira, consórcio nasceu com Brasília

O Estado de S. Paulo

 

A história do consórcio confunde-se com a fundação de Brasília e o surgimento do Brasil moderno. Produto financeiro tipicamente brasileiro, o consórcio foi criado por dois funcionários do Banco do Brasil em 1961, para atender às necessidades de famílias recém-chegadas à capital federal. Somente este ano, os negócios no segmento já somam R$ 158 milhões.

 

“Brasília apenas começava e o carro era um artigo de luxo na nova capital”, conta o aposentado Luiz Antônio Horta, ex-funcionário do Banco do Brasil e filho de um dos criadores do consórcio, Luiz Henrique Horta. Ele conta que o pai e um amigo, João Francisco Costa Meirelles, também funcionário do BB, montaram um grupo de pessoas que contribuíam todos os meses, com um valor, para comprar um carro, com sorteios entre os membros do grupo.

 

Estava lançada assim a base para o consórcio como produto: a contribuição de um grupo de pessoas, para aquisição de um determinado bem, que será sorteado mês a mês, até que o último do grupo seja contemplado. Na época, ainda não existia a possibilidade do “lance”, em que o participante adianta uma parcela do pagamento para receber o bem antes dos demais.

 

Numa cidade como a Brasília da década de 1960, em que as distâncias eram grandes e o transporte público incipiente, um carro era o sonho de consumo das famílias. O problema é que o bem era caro e não havia linhas de financiamento acessíveis.

 

Apenas um modelo de carro era entregue pelo consórcio: o Fusca, da Volkswagen, símbolo de uma indústria automotiva que também começava a crescer. Francisco Meirelles passou a ser conhecido na capital federal como “Chico Fusca”.

 

Os sorteios ocorriam entre os pilotis do Bloco F (na época, Bloco 3) da Quadra 308 da Asa Sul de Brasília, onde a família Horta morava. Histórica, esta é a chamada “quadra modelo”, idealizada pelo urbanista Lúcio Costa e que serviu de parâmetro para a construção das demais quadras residenciais da capital federal. “Eu descia com meu pai ao térreo, onde se reuniam os funcionários do banco, e ali eram feitos os sorteios, à noite. Era uma coisa muito familiar”, conta Antônio Horta.

 

O modelo deu certo

 

Em pouco tempo, além de mais funcionários do banco, o consórcio passou a atrair interessados entre servidores da Câmara, do Senado, do Banco Central e de outros órgãos públicos. Os criadores do consórcio chegaram a administrar 700 grupos, cada um com dezenas de participantes. Em pouco tempo, a ideia começou a ser replicada e virou um produto financeiro.

 

Em 1971, surgiu a primeira lei a respeito dos consórcios, que passaram a necessitar de autorização prévia da Receita Federal para funcionar. Em 1991, a regulamentação passou para o Banco Central.

 

O próprio Antônio Horta, que também se tornaria funcionário do Banco do Brasil, trabalhou no desenvolvimento do produto dentro da instituição, a partir de 2003. Mais tarde, surgiria a BB Consórcios – empresa voltada para este mercado, que no primeiro semestre deste ano comercializou mais de 139 mil novas cotas de consórcio, que representaram R$ 5,1 bilhões em volume de negócios. “Me sinto orgulhoso de saber que meu pai, em sua simplicidade, criou este meio fabuloso de aquisição de bens”, diz. (O Estado de S. Paulo/Fabrício de Castro)