Mercado de veículos premium: o buraco é mais abaixo

AutoIndústria

 

Em um país onde a melhora da economia se vê mais na torcida dos empresários do que na prática dos mercados, a vida não é fácil para ninguém. Ou quase ninguém. Vender automóveis de centenas de milhares ou até milhões de reais parece ser tarefa bem menos complicada do que negociar um carro de R$ 50 mil ou R$ 100 mil.

 

É o que sugerem os números de emplacamentos das principais marcas de carros de luxo ou superesportivos. Até mesmo a disparada da cotação do dólar frente ao real tem afetado bem menos os negócios do, digamos, andar de cima. Enquanto o mercado interno total de automóveis e comerciais leves registrou avanço de cerca de 14% no acumulado dos oito primeiros meses do ano, diversas marcas premium registram evolução até duas ou três vezes maiores.

 

O desempenho da Volvo é o melhor exemplo: a montadora de origem sueca negociou 4.045 unidades de janeiro a agosto, 85% a mais do que em igual período de 2017 e já acima dos 3,5 mil veículos acumulados ao longo de todo o ano passado. Muito desse resultado, claro, em decorrência da chegada do XC40, seu utilitário esportivo mais barato, mas ainda assim com preços a partir de R$ 170 mil.

 

O fim dos 30 pontos adicionais de IPI, em dezembro, ajudou também, mas, avaliam os executivos do setor, seu efeito foi praticamente anulado pela elevação da moeda americana nos últimos meses. Se em 2017 a cotação média do dólar ficou em R$ 3,19, hoje trafega na faixa de R$ 4,13, quase 30% a mais. Isso, contudo, não impediu que o fluxo de clientes nas sofisticadas revendas de modelos de luxo crescesse e os negócios, também!

 

As vendas da Porsche, por exemplo, somaram 912 veículos de janeiro a agosto, 20,6% a mais do que em igual período de 2017. As da Jaguar chegaram 1.084 unidades, crescimento de 22,8% na mesma comparação. A Land Rover foi mais além: foram emplacados 1.533 veículos da tradicional marca de utilitários esportivos, evolução de 44%.

 

Paulo Ferreira, vice-presidente da Abeifa, reconhece que o impacto da valorização do dólar é bem menos sentido nos segmentos mais elevados – leia-se, nos quais os clientes não mudam de ideia por R$ 100 mil de diferença.

 

É o caso clássico dos compradores de superesportivos. A Lamborghini negociou onze unidades até agosto, cinco  a mais que no acumulado de oito meses de 2017 e mesma quantidade vendida ao longo de todo o ano passado.

 

Quadro idêntico se vê na Ferrari: vinte veículos negociados nos primeiros meses de 2018, quatro a mais na comparação anual e exatamente o mesmo volume registrado ao longo dos dozes meses de 2017. (AutoIndústria/George Guimarães)