Crescimento de importação irregular pressiona o mercado de motopeças

DCI

 

A importação de produtos não conformes e variação do dólar pressionam a indústria de componentes para motocicletas. De acordo com entidade, maior parte de produtos irregulares tem origem chinesa e movimento protecionista dos EUA pode piorar situação.

 

“Existe a preocupação com importações ilegais e subfaturadas. É possível que devido às tarifas do governo de Donald Trump, a China expanda para mercados emergentes, tentando vender mais produtos vinculados ao aço no Brasil”, avalia o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos (Sicetel), Danielle Pesteli.

 

A entidade realizou um estudo sobre a importação de kits de transmissão, componente responsável por transferir o movimento do motor para a roda traseira, e concluiu que entre 2013 e 2018 82% do volume tinha um valor abaixo do mínimo, levando em conta o custo de aço na China e a matéria-prima empregada na fabricação.

 

O advogado da empresa EBFVAZ, Eduardo Ribeiro Augusto, explica que muitas vezes a irregularidade decorre de uma fraude no recolhimento de imposto sobre a importação. “Através do subfaturamento, o importador paga imposto sobre um valor menor do que o verdadeiro. Isso permite um preço extremamente competitivo e mata a indústria nacional.” Fabricante de peças de automóveis e motocicletas, a EBFVAZ ressalta que não se opõem às importações, apenas aquelas que não são feitas dentro da legalidade. “Não somos contra, desde que praticada de forma leal. A prática por má fé ou ignorância de um código tarifário ilegítimo contribui para uma desindustrialização do setor. Além disso, são produtos que não atendem a norma técnica e colocam em risco o consumidor”, aponta Augusto. Ele também acredita que a decisão dos Estados Unidos de tarifar o aço pode aumentar o volume das importações. “Com outros mercados fechando as portas, o Brasil se torna bastante promissor”.

 

O diretor geral da Coser, Delvino Coser, avalia que falta fiscalização ao setor. “Eu importo tudo regularmente e não consigo vender no Brasil, porque a concorrência é desleal. Somado ao dólar alto, deixou de valer a pena comprar peças de fora.” Ele explica que a empresa, especializada na fabricação de motopeças, costumava importar a corrente do kit de transmissão, mas que o produto nacional tornou-se mais barato. “Se as importações do mercado fossem 100% legais, valeria a pena. Mas do jeito que está, fica difícil”.

 

Coser conta que enquanto gasta com ensaios de aprovações junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), concorrentes seguem atuando com peças não conformes. “O Inmetro precisa atestar a qualidade do aço e dos equipamentos. Poucas empresas do Brasil tem essa habilitação. Quando uma fiscalização mais efetiva começar ocorrer, vamos estar preparados.” Através dos dados apurados em seu estudo, a Sicetel pretende municiar auditores e técnicos para detectar desvios que afetam toda a cadeia metalomecânica e siderúrgica. “É uma iniciativa para atuarmos na defesa comercial contra importações ilegais e subfaturadas que não atendem os requisitos técnicos básicos”, declara Pestelli.

 

Desempenho do setor

 

Pestelli afirma que o desempenho do setor está inferior às expectativas. “A atividade industrial é menor do que o esperado. A greve dos caminhoneiros afetou razoavelmente o mercado. A indústria de transformação caiu muito entre 2014 e 2017, mais de 20%, e qualquer crescimento vai ser muito pequeno. Dificilmente será maior do que 2,5%”.

 

O presidente do Sicetel explica que o preço do aço é uma das principais preocupações. “Por conta da valorização do dólar, nós já tivemos duas ondas de aumento, que totalizaram cerca de 20%. As siderúrgicas estão aventando a possibilidade de mais uma, por volta do mês do outubro”.

 

Coser aponta para o fato da variação cambial puxar o preço apenas para cima. “Se o dólar sobe, o preço do aço sobe. Se o dólar cai, o preço fica igual. A empresa compra uma chapa de aço, o câmbio varia e já tem um impacto, não consegue repassar o preço para garantir sua margem”. (DCI/Ricardo Casarin)