A Fiat sente o fim da “era Marchionne”

O Estado de S. Paulo/The New York Times

 

A abrupta antecipação do fim de uma era na Fiat fez as ações da montadora fecharem em queda ontem, na Bolsa de Milão. Diretor-presidente da Fiat-Chrysler, que inclui ainda marcas como Ferrari e Jeep, Sergio Marchionne, 66 anos, foi afastado do comando do grupo após sofrer complicações de uma cirurgia e está internado em estado crítico. O executivo é considerado o “salvador” da companhia, recuperando a multinacional italiana e transformando-a mais uma vez em uma potência internacional.

 

O baque foi sentido pela Fiat – cujas ações chegaram a cair 4% no pregão de ontem, fechando em queda de 1,5% –, ainda que a aposentadoria de Marchionne estivesse programada para 2019. A companhia já anunciou um substituto: Mike Manley, de 54 anos, vai assumir o grupo. Britânico, Manley vinha comandando os negócios nas marcas Jeep e os caminhões Ram, duas das unidades mais rentáveis da Fiat.

 

Quase uma década e meia atrás, ao entrar pela primeira vez na Fiat, Marchionne fez um diagnóstico nada lisonjeiro sobre a companhia: “Esse lugar cheira a morte.” Na época, o grupo somava dívidas de ¤ 14 bilhões, após um prejuízo global de ¤ 1,6 bilhão no ano anterior. A italiana era, então, considerada uma empresa moribunda.

 

Ações

 

Até então desconhecido nos meios empresariais italianos, Marchionne foi descoberto pela família proprietária da montadora após a morte de Umberto Agnelli, último do clã a exercer a presidência. A recuperação começou com a renegociação de dívidas e um choque de gestão. Mesmo seus colaboradores mais próximos eram observados e, eventualmente, defenestrados pelo chefe.

 

Foi o que aconteceu com o todo-poderoso presidente da Ferrari Luca de Montezemolo, demitido em 2014 apesar de ter projetado a marca internacional da fabricante de automóveis de luxo e construído uma escuderia vencedora na Fórmula 1, em parte graças ao piloto Michael Schumacher.

 

Ao longo dos anos de poder, Marchionne superou as resistências, renegociou de contratos trabalhistas, fechou fábricas e conseguiu cortes de dívidas e acordos inesperados para a injeção de recursos no caixa da empresa.

 

Em 2009, quando a Fiat ainda era considerada uma empresa em crise, e o setor automotivo enfrentava a turbulência financeira internacional, o empresário surpreendeu o mundo com a aquisição da Chrysler – e sem pagar nada por ela.

 

Orgulho industrial italiano, a Fiat passou a ser negociada nas bolsas de valores de Wall Street e de Milão. Comandado a partir de Detroit, nos Estados Unidos, e de Turin, na Itália, o novo grupo ganhou espaço e hoje vale mais de ¤ 60 bilhões, dez vezes mais do que em 2004, em boa parte por causa da Jeep.

 

Internado para uma cirurgia nos ombros descrita como banal, Marchionne agora está internado em Zurique, na Suíça, em estado descrito pela companhia como “irreversível”. Além de anunciar o novo presidente, John Elkann, neto de Gianni Agnelli, discípulo de Marchionne e diretor presidente do fundo Exor, holding familiar que detém 30% da Fiat e 23% da Ferrari, assumirá a marca de automóveis esportivos de luxo. (O Estado de S. Paulo/The New York Times/Laura Mcdermott)