O Estado de S. Paulo
As motocicletas se transformaram nos últimos anos num elemento da maior importância no sistema de transporte do País – das grandes metrópoles às pequenas cidades do interior – com algumas consequências altamente negativas, como o seu envolvimento em acidentes com vítimas numa proporção bem maior do que sua participação na frota de veículos. Nem por isso as autoridades se mostraram até agora dispostas a adotar medidas destinadas a enfrentar o problema – como o aumento da fiscalização e um esforço maior para melhorar a formação dos motociclistas –, apontadas como essenciais para tornar mais segura a utilização desse veículo.
Segundo estudo da Confederação Nacional dos Municípios, existem no Brasil 1 moto para 7,86 habitantes e 1 carro para 3,89 habitantes, o que dá uma ideia da mudança do perfil da frota de veículos. A mudança é mais acentuada nas Regiões Nordeste e Norte, nas quais há, respectivamente, 7,49 milhões de motos para 6,67 milhões de carros e 2,49 milhões de motos para 1,67 milhão de carros. Outro dado relevante é que em 44,6% dos municípios há mais motos do que carros.
As razões que explicam isso são a facilidade de crédito, o baixo valor das prestações e incentivos do governo para a compra de motos, além das deficiências do transporte coletivo e da agilidade desses veículos, que nas grandes cidades não ficam presos nos congestionamentos. Tudo isso tem permitido o acesso de um grande número de pessoas de renda modesta a um meio de transporte – ou instrumento de trabalho, no caso dos motoboys – rápido e eficiente.
O lado ruim dessa mudança é a insegurança dos veículos. As motos se tornaram o principal responsável pelo aumento dos acidentes de trânsito com mortos. É o que mostra levantamento feito pelo DPVAT – seguro obrigatório para vítimas de acidentes com veículos automotores –, segundo o qual, no ano passado, as motos se envolveram em 285.662 acidentes e foram responsáveis por 74% das indenizações pagas. Embora tenham crescido muito, no total as motos representam só 27% da frota nacional de veículos. Ou seja, comparadas aos outros veículos, elas são muito inseguras.
Por trás disso, entre outras explicações, está a ineficiência da fiscalização. E não apenas nas regiões mais pobres e remotas e nas cidades menores, que sofrem com a falta de recursos. A situação não é muito diferente em São Paulo, a maior e mais rica cidade do País, como mostra reportagem do Estado. Os motociclistas foram responsáveis por metade dos acidentes com vítimas no ano passado, mas receberam apenas 744,5 mil (5,5%) dos 13,3 milhões de multas de trânsito aplicadas na capital. A maior parte (91%) daquelas relativamente poucas multas estava ligada a questões de segurança, especialmente excesso de velocidade.
Diante desse quadro, é incompreensível que a Prefeitura, tão eficiente quando se trata de multar os demais veículos, usando uma rede de caros e sofisticados equipamentos – a ponto de se falar, e não sem razão, de uma verdadeira “indústria” da multa –, não tenha até agora demonstrado, nem de longe, igual desempenho em relação às motos.
Tal como no caso dos motoristas de carros, ônibus e caminhões, o problema dos motociclistas não se resume à fiscalização. Tão ou mais importante do que ela – pelo menos quando se pensa a médio e a longo prazos – é a educação. O presidente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas e Mototaxistas (SindimotoSP), Gilberto Almeida dos Santos, está certo quando afirma que só mais fiscalização não vai reduzir acidentes, acrescentando a ela “mais campanha de educação, melhor formação dos condutores”.
A conjugação de fiscalização e educação de trânsito tem possibilitado aumentar a segurança nas ruas e estradas no mundo inteiro. Recursos para educação dos motoristas não faltam, já que essa é uma das destinações do dinheiro das multas (que só cresce), como estabelece o Código de Trânsito Brasileiro. Basta cumprir a lei. (O Estado de S. Paulo)